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Você quer um conselho?

Autor: Julio Sampaio

Involuntariamente participei de uma breve conversa entre pai e filho. O jovem entusiasmado comunicava a decisão de uma mudança profissional. O pai não gostou da notícia e o aconselhou a não fazer o movimento agora. Apresentou alguns argumentos, enquanto o filho ia mudando as suas feições. A conversa terminou num clima não muito amistoso e, aparentemente, com o filho resistente às ideias do pai. Podemos pensar que é uma situação normal. Nada mais comum do que pais e filhos pensarem de forma diferente. Mas podemos também perceber algo ainda mais comum, o efeito do conselho que não é pedido.

Também foi o que aconteceu com Ana Maria e sua nora Patrícia. Ana disse que ela deveria ser mais dura na criação de Carlinha, sem se deixar levar pelo “mimimi’ da filha, que insistia em falar como um bebê. Foi a gota d’água, que trouxe à tona uma porção de coisas, até então, não ditas. Patricia respondeu que educava os filhos do seu jeito e que aproveitava para dizer que não gostava que Ana fizesse comentários sobre a decoração da casa. Ana defendeu-se dizendo que não opinou sobre a decoração da casa e que não queria se meter na criação da neta. Que fizera apenas um simples comentário.

Mesmo que você não conheça a Ana Maria, você pode supor que sim, que ela deve ter feito comentários sobre a decoração da casa do filho e da criação da neta. Fazemos este tipo de coisa com a melhor das intenções, não fazemos? Quanto mais próxima e mais amiga a pessoa, mais nos sentimos à vontade de dar a nossa opinião, mesmo que ninguém a tenha pedido.

Se a pessoa em questão está com problemas, aí mesmo que teremos rapidamente uma solução. Problemas dos outros são fáceis de serem resolvidos, não é mesmo? Podem ser questões que envolvem o casal, o relacionamento com o chefe, a condução dos negócios, o tipo de alimentação, ou um remédio para dor de cabeça. Também somos bons em chás, em tipos de exercícios e em qualquer coisa. Somos bons em invadir terrenos que não nos pertencem, muitas vezes, sem ao menos pedir licença.

Boa parte das pessoas tem isto já como um hábito, de maneira que o fazem automaticamente, de forma inconsciente. A questão não chega ao cérebro, e a prática faz com que o hábito se fortaleça cada vez mais. Apenas uma atitude consciente pode alterar a situação. É difícil eliminar hábitos, pois são conexões neurais fortes. Mais fácil é criar novas conexões por ações conscientes que, aos poucos, se tornarão novos hábitos. No início, exigirá esforço e parecerá estranho. Um dia se tornará parte de nós mesmos, de nossa personalidade.

Como o pai poderia levar o filho à reflexão sobre o melhor momento para a mudança profissional? E Ana Maria, que ações poderiam ajudá-la a desenvolver novos hábitos e assim criar uma boa relação com a nora? O que funcionaria para eles? O que o pai do jovem e a Ana Maria poderiam elaborar internamente e chegarem as suas próprias respostas? Ou seria melhor nós darmos a eles um conselho?

 

 

Julio Sampaio (PCC, ICF)

Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching