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Viver de escrever II – A missão

Autor: Julio Sampaio

Não é incomum, no dia em que vou escrever o artigo da semana, acordar com algum tema, ou mesmo com um roteiro geral na cabeça. Quando isto acontece é como se fosse um sonho, ou um finalzinho de sonho, pouco antes de acordar. É como se o meu anjo de guarda é que estivesse escrevendo. Aliás, costumo dizer que eu não sou escritor, mas o meu anjo de guarda é. Não sei se é um bom escritor, mas escreve. Neste papel, eu sou o crítico primeiro de seus textos e, às vezes, tão rigoroso, que nem deixo ir adiante a ideia.

Sonhei meio acordado, ou acordei meio sonhando, que era ainda muito jovem e estava em uma sala de aula com duas meninas. Uma delas, eu não lembrava o nome e a outra era Claudia, minha primeira namorada, cujo nome é o de minha esposa. Elas foram dois mundos não vividos, como escreveu um dia o mestre Artur da Távola.

No meu sonho, eu sabia que estava ali porque o meu artigo iria comentar três textos do mestre que me ficaram na cabeça desde a adolescência, não em detalhes, mas a ideia central.

Os mundos não vividos foram aqueles que poderiam ter sido, mas não foram, porque fizemos outras escolhas. Para cada mundo vivido, há vários mundos não vividos. A profissão que não seguimos, no meu caso, de médico ou de escritor. O namoro, que não foi adiante. A amizade que não cultivamos, A viagem de férias que foi trocada por outra. A palavra errada dita no momento errado. A festa que não fomos e, quem sabe, o que aconteceria se tivéssemos ido.

Ainda estava no sonho e sabia que estava ali para transmitir três mensagens da Távola do Artur e esta era apenas a primeira delas. A segunda estava clara na minha cabeça. Era sobre o amor entre duas pessoas. Do que o amor precisa?

O amor precisa de afeto. O amor precisa de erotismo. O amor precisa de segurança. Por minha conta, avancei a partir daí. Sem afeto, o amor vira pedra fria, uma relação entre egoístas. Sem erotismo, se transforma em amizade, sem chama, sem sabor. Sem segurança, ele não resiste às encruzilhadas que a vida tráz. Nenhum relacionamento se sustenta se for questionado diariamente, se é ele ou se é ela mesma a companhia que queremos.

No sonho passei por diversos rostos e corpos, que já não me lembrava de quem, onde os mundos não vividos se misturavam com o que o amor precisa. Estava agora diante de uma máquina de datilografia Remington, o que os mais velhos sabem do que se trata. Escrevia, errava e jogava fora o papel. Os montes iam se acumulando do lado da mesa, como ocorria no passado, quando você precisava corrigir algo. Sabia que o tempo estava se esgotando e que eu não podia falhar na missão. Estava suando. Qual era mesmo a última mensagem? Escrevia, errava e jogava fora o papel. Acordei.

Qual era mesmo o último tema? Pensei na cama algum tempo e nada. Só havia uma maneira, concluí. Vou colar e ler o último artigo. Escrevi lá quais eram as ideias que iria compartilhar, agora com os meus quinze leitores. Ainda estava com o sentimento de missão a cumprir. Talvez fosse mesmo uma mensagem importante.

Competir com e não competir contra, era o que o Távola queria dizer. Lembrei que ele se tornou político. Foi senador pelo PSDB e esteve muito tempo sem partido. Não sei que tipo de competições ele esteve envolvido. Para mim, desde então, ficou a ideia de que competir com é quando o seu competidor faz você crescer, empurrando-o para ser melhor, sendo ele mesmo uma boa referência. Competir contra é quando você precisa destruir o outro e o outro a você. Ambos saem destruídos ou menores da competição. Em tempos atuais, inclusive, mas não só na política, talvez esta seja uma mensagem importante.

Mundos não vividos, do que o amor precisa, competir com e não contra. Recado dado. Missão cumprida, mestre Artur.

 

Julio Cesar Sampaio (PCC, ICF)

Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching