Blog

Compartilhe

Um por todos e todos por um ou cada um com os seus problemas?

Autor: Julio Sampaio

Marta acabou de perder uma criança com três meses de gravidez. Não é o primeiro neném do casal que não chega a nascer. Já foram três bebês, e ela e Jorge não desistem do sonho. Cada vez que isto ocorreu, sofreram bastante, mas seguiram em frente. Ainda estão abalados, mas vão continuar tentando, mesmo lutando contra o relógio biológico, como costuma dizer Marta. Ela sente a pressão comum a mulheres que beiram ou passaram dos quarenta e que querem ser mães pela primeira vez.

Maurício é irmão de Marta e vive um momento pleno profissionalmente. Acabou de ser promovido e de assumir uma área importante em uma multinacional. Ele fará parte de um grupo seleto de executivos e sua influência passará a ser em nível internacional. Maurício sente-se desafiado e está motivado com as novas funções. Vive bem com a mulher e seus filhos já são adultos. Neste campo, porém, Maurício não está tão confortável.

Maria Clara ainda não se firmou profissionalmente e parece perdida, sem saber o que quer. Entra e sai de diferentes cursos, sem concluir nenhum. Já tentou empreender em diferentes negócios, sempre com o apoio financeiro de Maurício, mas nada deu certo. O mesmo ocorre com os seus relacionamentos, que começam sempre com muita paixão, só que não duram muito. Maurício se preocupa com Maria Clara, que se mostra triste e insegura.

Junior é mais novo, com um pouco mais de 18 anos. Vai muito bem nos estudos e possui uma inteligência diferenciada. É autodidata em duas ou três línguas, além de lidar muito bem com as novas tecnologias. Recentemente, surpreendeu a família ao revelar que é trans e que nunca se sentiu à vontade com o seu corpo. Diz que sabe o que quer e decidiu assumir uma nova identidade. Quer ser chamado de Maura, veste-se agora como mulher e está tomando hormônios para mudar o corpo. Após o choque inicial, Maurício e Luzia parecem estar lidando bem com a situação. Sua maior preocupação é saber que as dificuldades para o filho, ou filha, não serão pequenas.

Neste final de ano, estarão todos juntos. O casal Jorge e Marta, Maurício, Luzia e os filhos Maria Clara e Junior, ou Maura. O tradicional natal é sempre na casa dos patriarcas, Seu Carlos e Dona Beth, ambos com mais de oitenta. Com um problema de saúde aqui e ali, eles vão levando a vida. Brigam e fazem as pazes todos os dias e não sabem em detalhes da vida dos filhos e netos, apenas o que chega espontaneamente. Desistiram de fazer perguntas, pois ninguém tinha muita paciência para responder e, o pouco que sabiam, só gerava preocupações. No final, se irritavam pela família não querer seguir os seus conselhos. Fazer o quê?

Mas voltando ao Natal, a cena deverá se repetir, como ocorre todo o ano. Haverá trocas de presentes, abraços sinceros, um belo jantar e o brinde pela felicidade de todos. Estimulados pelo vinho, alguns compartilharão suas conquistas e sonhos. Outros, mais escutarão do que falarão.

O que ocorre com as famílias, também acontece nas empresas, entre os grupos de amigos e nas redes de profissionais. Precisamos estar juntos e a egrégora que se forma, a energia do grupo, pode ser geradora de força para todos. Precisamos pertencer e sermos pertencidos. É da natureza humana. Vale a máxima: um por todos e todos por um.

 

Mas cada um tem a sua própria história, a sua trajetória, os seus desafios únicos. O caminho de cada um não pode ser caminhado pelo outro. Pais, avós, irmãos, amigos e colegas, mesmo que queiram, não poderão fazer as escolhas pelos outros. Aqui vale a outra máxima: cada um com os seus problemas.

Um por todos, todos por um e cada um com os seus problemas. É a vida, com todo o seu sabor, sendo ela mesma, a vida.

 

 

Julio Cesar Sampaio (PCC, ICF)

Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching