Em maio, entra em vigor a nova norma NR1 que obriga as empresas a fazer um diagnóstico dos riscos de doenças mentais e a estabelecer medidas para preveni-las. A norma não é nova, mas a versão anterior, que trata da prevenção e tratamento de doenças ocupacionais, não enfatizava a questão mental dos trabalhadores. Nova também é a declarada intenção de multas financeiras, depois de um prazo de adaptação, para aquelas que não atenderem às exigências. A preocupação é a doença mental. Segundo o Atlas de Saúde Mental - OMS 2022, o Brasil ocupa a posição de país mais ansioso do mundo, o segundo mais estressado e o quinto mais depressivo. O mundo do trabalho é apontado como um dos principais vilões. Foi preciso que o quadro se apresentasse grave e acompanhado de ameaças de punições para que o assunto ganhasse relevância.
A questão é que o foco na doença gera uma distorção. Não ser doente não significa ser saudável, assim como não ser infeliz não significa ser feliz. O foco precisa ser na saúde e na felicidade. Todos querem possuí-las, mas elas não caem do céu. Precisam ser construídas, consciente e intencionalmente. As empresas que constituem, para muitos, a instituição mais poderosa de nossos tempos, acima mesmo de países, da ciência e das religiões têm, obrigatoriamente, a responsabilidade de dar a sua contribuição.
Vale lembrar que a felicidade não é formada apenas por momentos de alegria e de prazer e que há outras dimensões a ser consideradas como: o engajamento, o propósito, as relações positivas, as realizações de sonhos e metas e a maneira como lidamos com as dificuldades. Sabemos também que ela dependerá muito mais de fatores internos do que externos, como confirmam estudos mais recentes da neurociência e da psicologia positiva e como já nos ensinavam os antigos filósofos. É neste contexto que ganha relevância a construção consciente de felicidade, um ato de autorresponsabilidade de cada um.
Não cabe a ideia superficial de que seria reponsabilidade da empresa fazer a sua equipe feliz. Isto cabe a cada um individualmente. À empresa, cabe sim, criar as condições básicas para que isto aconteça, preparando um bom terreno. Os sistemas de cargos e salários, os benefícios, as condições materiais e tecnológicas, os programas de treinamento e a adoção clara de um estilo de liderança que favoreça o desenvolvimento das pessoas representam a parte da companhia. Para isto ela também precisa estar saudável financeira e economicamente. Ou seja, pessoas e resultados caminham juntos.
Um passo a mais das empresas pode ser o de estimular o aprendizado de algo que não faz parte de nossa educação curricular, a construção da felicidade, mesmo sendo ela o maior anseio do ser humano.
Há modelos mentais e práticas que nos aproximam da felicidade e outros que nos afastam dela. Isto pode ser ensinado depois de um convite aceito e não pode ser imposto. Como diz um velho ditado: “você pode levar o cavalo até o rio, mas não pode obrigá-lo a beber água”. Repetindo: a construção consciente de felicidade é um ato de autorresponsabilidade individual que pode, sim, ser favorecido pelas empresas, que serão fortemente beneficiadas, pois saúde e felicidade geram produtividade, atraem e retêm os maiores talentos e são boas para os negócios.
Existem empresas felizes e saudáveis mentalmente? Sim, assim como existem empresas doentes e infelizes. Além dos números financeiros, como estão as pessoas que as compõem?
Vamos aguardar os efeitos da nova versão da norma RN1 e qual será a sua influência nas empresas, nas suas lideranças e nos colaboradores. O foco na doença e na punição não é o melhor, mas pode ser um primeiro passo. É preciso, porém, que se vá além, onde as leis humanas não conseguem chegar. É preciso que o desejo de construir uma sociedade saudável e feliz seja mais que um dever legal, um ideal, mas um propósito que una todos nós, pessoas e empresas. Cada um com a sua parte e responsabilidade, conscientemente.
Julio Sampaio (PCC, ICF)
Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria Empresarial
juliosampaio@consultoriaresultado.com.br