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Pílulas de felicidade ou de alienação?

Autor: Julio Sampaio
 
 

Converso com uma executiva que diz: “vivo a base de tarja preta, senão eu não aguento. Mas não sou apenas eu não, em minha área todos tomam algum remédio para aguentar o tranco. E não é apenas na minha empresa não. Todos os meus amigos tomam remédios para a ansiedade, para a depressão, para dormir, ou para alguma coisa deste tipo. Ninguém fala, mas esta é a realidade, está todo mundo à base de remédios. Sem isto não dá para ser feliz”.  

Mesmo sabendo que o mundo corporativo não é fácil e que algumas empresas podem ser realmente tóxicas, não acredito que esta situação seja tão generalizada. Ainda assim, é grave, pois, também não é pequeno o número de pessoas que busca diferentes tipos de “aditivos” para seguirem a sua trajetória. Muitas caminham sem um sentido. 

Para Viktor Frankl, a busca de sentido não é apenas uma motivação secundária, mas algo intrínseco do ser humano. Um levantamento estatístico feito onde ele lecionava, revelou que 25% dos seus alunos europeus apresentavam um grau acentuado de vazio existencial. Entre os seus alunos americanos, a porcentagem não era de 25%, mas de 60%. Uma outra pesquisa, que envolveu 48 universidades nos Estados Unidos e 7.948 estudantes, apontou que 78% deles tinha como seu principal objetivo “encontrar um propósito e sentido para a minha vida”. Frankl destaca que a ausência de sentido já era o grande mal do século XX, sendo a origem da maior parte das neuroses e doenças psíquicas. E de lá para cá, o que você pensa que ocorreu? 

O quadro descrito pela executiva acima, ainda que exagerado, não estaria relacionado à falta de sentido? No MCI, entendemos que o sentido é composto pela compreensão da missão, do desenvolvimento de um propósito e da construção de um legado. Normalmente, o sentido não surge do nada, mas é fruto do autoconhecimento e de reflexões, duas coisas que também nos faltam. 

No passado, para nos guiar, tínhamos a força da tradição, da moral, das religiões, das famílias e das autoridades. As pessoas faziam o que tinham que fazer e seguiam por aquele caminho determinado e pronto. Ou obedeciam ou pagavam um preço. No geral, elas não eram levadas a pensar e a fazer uso de sua potencialidade. Assim, não cabe o saudosismo de que “antes é que era bom”. 

Acredito que no futuro seremos seres plenos, conscientes do sentido de nossa existência e exercendo as nossas escolhas. Neste mundo não caberá o “ter que fazer” qualquer coisa, mas a compreensão de que tudo que fizermos tem um “porque fazer” e ele estará relacionado à nossa missão e ao nosso propósito. Neste futuro que imagino, a felicidade não será uma utopia, mas algo construído conscientemente. Como disse John Lennon na música Imagine: “você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não estou sozinho”.  

Neste momento de transição em que não temos o que nos dirigia no passado e ainda não existe o novo, parece que há um vazio. Estamos na transição entre a cultura da obediência e a cultura da consciência. Neste momento é compreensível que, como sociedade, precisemos das tais pílulas da felicidade, como dito exageradamente pela executiva acima. Mas seriam pílulas de felicidade ou de alienação?   

A fala dela “todo mundo está tomando” não é verdadeira. Muitas pessoas estão fazendo escolhas diferentes e sendo ativas na construção de um mundo melhor. Você e eu podemos acelerar esta transição, começando por nós mesmos e pelo nosso redor. Este é o sentido da mensagem do MCI neste início de ano e que é também um convite para você: vamos construir felicidade conscientemente? Para você, para mim e para todos? É disso, e não de pílulas, que o mundo precisa. 

 

Julio Sampaio (PCC, ICF)  

Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute 

Diretor da Resultado Consultoria Empresarial