Fico feliz em rever um amigo, que chamarei de Everton. Nós nos conhecemos há quase trinta anos. Inicialmente, era um cliente, depois um colega, companheiro de diversos trabalhos e, finalmente, a condição atual, amigos, uma palavra que diz tudo. Everton tem algumas características admiráveis. É uma pessoa de paz, amável no trato com as pessoas e que procura ser útil em pequenas coisas, sem fazer alardes do que faz. É uma pessoa humilde, no sentido positivo da palavra.
Desde que eu o conheci, ele dizia que o seu sonho era se aposentar. Queria ter tempo para praticar esportes, que sempre fora a sua paixão, assistir a filmes e outras atividades, que o trabalho diário não permitia. Gostava do que fazia e da empresa em que trabalhava, mas a aposentadoria, para ele, seria o grande prêmio. Quando o momento se aproximou, falava com entusiasmo, mesmo para seus chefes e colegas, sem se preocupar se isto poderia lhe trazer algum tipo de prejuízo. De tanto manifestar este desejo, acabou por fazer um acordo com a empresa onde trabalhara por mais de trinta anos. Saiu feliz, com direito a homenagens durante um concorrido almoço entre tantos amigos.
Ocorre que, por questões comuns da previdência social, a aposentadoria oficial demorou a sair. Seu discurso de que estava se aposentando não correspondia aos fatos, gerando preocupações e necessidade dele fazer um outro tipo de trabalho, um pouco mais leve e flexível do que o anterior, mas ainda assim, trabalho, o que não estava nos planos de Everton. Para quem já tinha sentido na boca o gostinho do que era o seu desejo, prolongar a espera tornou-se ainda mais difícil. Nesta época, este era o único assunto que interessava a Everton, a sua aposentadoria, que já deveria ter saído. Não era uma questão tanto financeira, já que ele recebera uma boa reserva, mas era a incerteza. E, naturalmente, ter que seguir trabalhando.
Sua alegria foi enorme quando veio a notícia. Everton estava aposentado. Parou tudo e foi curtir a vida, como sempre sonhara. Passeou com a mulher à tarde no shopping; fez pequenas viagens próximas com a família; assistiu a diversas séries e filmes; correu no parque em diferentes horários, terminando com uma água de coco, o que dava um grande prazer. A vida era um paraíso.
Isto no primeiro mês. No segundo mês, o sentimento não foi tão intenso, mas foi legal. No terceiro, a rotina já não era tão gratificante. No quarto mês, Everton se via à noite, olhando para o teto e pensando: “o que vou fazer amanhã? Como vou gastar o meu tempo?” Passou a acordar depois das dez horas e custava a dormir. E, alguns dias, não chegava a tirar o pijama e a barba ficava por fazer. Isolou-se dos amigos e sentiu-se esquecido. Era uma sensação de vazio.
Ouço este relato do próprio Everton, tendo se passado algum tempo. Ele está mais jovem, entusiasmado e, agora, trabalhando. O que o torna mais feliz é que está sendo útil, contribuindo com pessoas e com a empresa em que trabalha. Descobriu que esta é a sua maior realização: ser útil.
Ser útil e promover o bem estão na essência do ser humano, porque faz parte de sua missão maior, como afirma Mokiti Okada. Estudos da psicologia positiva, comandados por Martin Seligman, Miihaly Csikszentmihaly e vários outros pesquisadores não deixam dúvida quanto à relação entre felicidade e altruísmo. Há uma forte satisfação duradoura quando fazemos o bem, somos úteis e cumprimos a nossa missão. Esta satisfação vai além do prazer e é uma das dimensões da felicidade.
Saio do nosso encontro entusiasmado. Uma pizza, alguns chopes, mas sem excessos. Everton e eu temos trabalho no dia seguinte. Que bom que temos trabalho amanhã! Que bom que teremos o final de semana!
Julio Sampaio (PCC, ICF)
Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria Empresarial