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O Robert e o Papa

Autor: Julio Sampaio

Parecia um gol de final de copa do mundo, só que muito mais forte, pois não havia um dos lados para chorar. Choros havia muitos, mas de emoções incontroláveis. Era como se no último minuto do jogo, os dois times fizessem um gol e os dois lados vencessem. “É penta! É penta! É penta!”, gritou Galvão Bueno, pulando abraçado com Pelé, em uma cena que ficou marcada na história do futebol brasileiro. Agora não era o futebol e nem o Brasil. Era algo bem maior, divino, talvez. E não se limitava a um país. O alcance era os quatro cantos do mundo.

Quando a fumaça branca aparece, pessoas já olhavam fixamente para a chaminé, numa expectativa de que poderia ocorrer a qualquer momento. A fumaça trouxe a explosão. Gente de todos os lados correm a pé, de bicicleta, se arrastando, gritando ou sussurrando consigo mesmo, falando línguas inelegíveis entre si, mas que todos entendiam o sentido. Repórteres de todo o mundo, falando sem parar, também eles emocionados, com suas câmeras e microfones. Homens, mulheres, trans, pessoas brancas, negras, amarelas, pobres, ricas, de direita, de esquerda, de centro, com rótulos e sem rótulos. É um momento histórico e todos sabem disso. Mas é mais do que algo sabido, é sentido. A energia que percorre a praça e invade as telas do mundo é contagiante. Em vários países, igrejas batem os sinos. Breaking news. Habemus Papam! Nasceu um papa.

Robert era um homem comum. Não tão comum, porque era padre e se tornou cardeal. Mas os padres não são pessoas comuns, de carne e osso? Não possuem suas virtudes e defeitos? Não lidam com as suas tentações? Não convivem com os seus anjos e demônios? Robert era um homem comum quando entrou no conclave. De lá, saiu Leão XIV. Pela crença dos católicos, o Espírito Santo o fez Papa. Ou teria o Espírito Santo assentado no corpo de Robert? Quem dirigirá a igreja católica e os seus mais de um bilhão e quatrocentos milhões de fiéis no planeta Terra? Acredita-se que não será Robert, um homem comum, mas Leão XIV, o Papa.

Um repórter perguntou uma vez a Pelé se não era um tipo de arrogância se referir a si mesmo na terceira pessoa. A resposta foi de que, ao contrário, arrogância seria se ele se confundisse com o Pelé. Ele era apenas o Edson. O gênio, o rei do futebol era o Pelé. Quem entrava em campo e fazia os gols e as jogadas incomparáveis era o Pelé. Edson tinha a consciência de que era um homem comum, mas sabia da grandiosidade de Pelé, que utilizava seu corpo, especialmente suas pernas.

É o mesmo o que acontece com os artistas quando pintam. Com os escritores quando escrevem. Com os músicos quando compõem. Com as mães quando se tornam mães. Com os pais também, nem sempre quando os filhos nascem, mas quando se tornam pais de verdade. Um presidente de um país ou de uma empresa ocupa uma posição que não é ele. O cargo é temporário. Por mais óbvio que pareça, quantos não misturam sua pessoa com a posição que ocupam?

Acredito que, para cumprir algumas destas missões precisamos, muitas vezes, de mais recursos do que possuímos. É como se fizéssemos uso, temporariamente, de forças e inspirações extras, um poder que vai além de nós mesmos, nos fazendo instrumentos de algo maior. Os japoneses usam a expressão Jishoi (Ji-tempo, Sho-lugar e I-posição) para definir a dualidade entre o que somos e a posição que ocupamos, em um lugar em um determinado tempo.

Pode ser que no caso de um Papa, esta energia maior, seja o que os católicos chamam de Espírito Santo. Podemos chamar de Força Cósmica, Inteligência Superior, Energia Divina, ou simplesmente de Universo. Alguns dirão que é o próprio Supremo Deus atuando. Outros rejeitarão completamente a ideia, atribuindo tudo ao acaso e afirmando que Robert Francis Prevost e Leão XIV são a mesma pessoa.

E você, acredita na diferenciação entre a pessoa e o cargo que ocupa? No seu caso, em que momentos você se sente instrumento de algo além de você mesmo? Ficarei feliz em saber o que você pensa a respeito.

 

 

 Julio Sampaio (PCC, ICF)

Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria Empresarial

juliosampaio@consultoriaresultado.com.br