A história se passa no antigo reino de Cristal, nos tempos de Atlântida. Conta a lenda que uma grande epidemia ameaçava dizimar todo o reino, mas que os deuses da compensação o salvaram exigindo em troca a vida do Rei Gransábio I, fundador e unificador do reino. Antes dele, a região era uma verdadeira barbárie, com miséria, doenças e conflitos por toda a parte, um inferno. Justus Sereno, com o poder do olhar, da escuta e de fazer perguntas, unificou as diversas tribos e foi conclamado Rei Gransábio I, iniciando um período de grande prosperidade do reino.
Questionado sobre como tinha conseguido tal feito, Gransábio I disse que havia recebido dos deuses da sabedoria um grande poder, um segredo, que tornaria tudo mais fácil, mas que só poderia ser revelado a seu sucessor no momento de sua morte. A partir de então, a missão caberia a seu filho Iuvenis Sereno, que seria proclamado Gransábio II.
Sacrificar a própria vida para salvar o seu povo era o que caberia a um governante, segundo as leis da compensação e o rei aceitara o seu destino, preparando-se para revelar o tal segredo a seu filho Iuvenis. Infelizmente, porém, tudo ocorreu muito rápido. Numa noite fria de sexta-feira, quando as nuvens cobriam todo o céu, os deuses do tal acordo aparecerem para cobrar a dívida. O rei imediatamente caiu na cama com uma febre alta e mal teve tempo de balbuciar as suas últimas palavras ao filho. Foram apenas duas expressões: os outros e o espelho. Gransábio I partiu deixando para Iuvenis um enigma, sem a solução do qual não poderia assumir o reino de Cristal e garantir prosperidade ao seu povo.
Consultado sobre como Iuvenis poderia decifrar o enigma, o oráculo disse: vá para as ruas, misture-se com o povo e a verdade se revelará. Disfarçado de um jovem filósofo, Iunus seguiu por 40 dias, para os quatro cantos do reino, perguntando a um e a outro: o que une o espelho aos outros? Alguns, sem saber de quem se tratava, riam de sua cara, outros se irritavam e o mandavam trabalhar. Poucos lhe davam atenção e arriscavam dizer alguma coisa.
Uma mulher que parecia reflexiva disse: os outros me servem como um espelho para me mostrar que estou sempre evoluindo. É o que eu ouço dos outros.
Um homem que ouvia discordou e complementou: se é um espelho ele me mostra o que eu sou e o que os outros esperam de mim. Não preciso mudar e, sim, ser coerente.
Um artista proclamou: o que vejo nos outros são defeitos por toda a parte e de todos os tipos. Quando me vejo no espelho, percebo que sou uma pessoa melhor dos que os que me cercam.
Uma mulher que vivia na janela, sorriu levemente para Iunus e parecia viajar no tempo: o que vejo nos outros, sobretudo nos ricos e poderosos, é um espelho do que sonho em ser um dia. Vejo o meu futuro.
Um velho malvestido e malcuidado ruminou: não gosto do que vejo no espelho e muito menos nos outros. É tudo muito feio e ruim. Se pudesse, acabava com tudo isso em uma única vez. De que vale todo o progresso se a felicidade não existe?
Com estas e com tantas outras expressões tão diferentes, como resolver o enigma, pensou Iunus. Uma segunda consulta ao oráculo, no entanto, revelou um novo cenário: “você já esteve com a verdade, só que não a reconheceu. Ela está agora bem perto, tão perto, que você só precisa olhar para o espelho”.
E foi, então, que Yunus recebeu dos deuses da sabedoria a revelação que o tornou o Rei Gransábio II, qualificando-o a lidar com todos os tipos de diferenças. Ao contrário de outras nações que sucumbiram à pandemias, catástrofes e afundamentos, como foi o caso de Atlântida, Cristal se tornou por séculos uma referência de um lugar em que predominava a saúde, a paz, a prosperidade, ou seja, a felicidade.
O segredo de Cristal ainda continua desconhecido para a maioria de nós mortais: o que vemos nos outros e à nossa volta, seja bom ou ruim, é espelho do que existe dentro de nós.
Julio Sampaio (PCC, ICF)
Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria Empresarial