É uma barraca de feira livre orgânica. Há tomates, batatas, diversos tipos de hortaliças e de frutas. A família fala uma língua que parece alemão. Explicam depois que é pomerana, uma língua germânica, ainda presente em algumas localidades.
- São vocês mesmos que plantam tudo? É tudo da terra de vocês? - pergunto.
- Sim, nossas plantações ficam há 250 km daqui. – respondeu o homem mais velho.
- E vocês vêm para cá toda a semana?
- Sim, saímos ontem à tarde, paramos para fazer um lanche e chegamos aqui às 9 da noite. Dormimos no caminhão mesmo e, ainda de madrugada, montamos a barraca. Amanhã cedo “tamo” de volta nas nossas terras e começamos tudo de novo.
- E esta goiaba? Será que não tem bicho?
- Posso garantir que não. Eu mesmo ensaco uma por uma para proteger das moscas. São as larvas das moscas que provocam o bicho da goiaba.
- Não sabia. Mas você ensaca uma por uma?
Foi o que ele confirmou e contou mais detalhes sobre os cuidados com cada tipo de plantação que ele e a sua família têm, até que possam estar ali naquela barraca me vendendo aquelas frutas e hortaliças.
Isto aqui é R$ 5,00, aquilo é R$ 7,00 e mais ovos, tomate, banana etc. No final, um valor não tão pequeno assim. Como questionar o preço ou pedir um desconto? O que vai junto com o meu dinheiro?
O mesmo ocorre quando recebo o pagamento dos meus clientes. Se vier somente o dinheiro, é pouco. Se for só o dinheiro, vou me sentir profundamente incomodado. Isto porque ofereço o meu trabalho, o meu melhor. Coloco espírito e não me contento a entregar apenas o que o cliente estaria pagando. Se não é ainda melhor, pode ser pelo meu limite de capacidade, mas não porque fiz de qualquer maneira. Um pouco de mim está ali. O que quero receber junto do dinheiro é a valorização deste trabalho, uma gratidão sincera, que somente o dinheiro não pode pagar.
Penso que você vai se lembrar, caro leitor, de uma personagem humorística do Zorra Total, feito pela atriz Katiuscia Canoro, que usava o bordão: “Tô pagaaaaaando...”, que sendo engraçada, mostrava bem o quanto é ridículo achar que o dinheiro quita tudo. Não, não quita. O dinheiro é muito importante e precisa ser reforçado com um bom sentimento.
O que vem e o que vai junto com o dinheiro? O que vai quando pago a diarista, o dentista, o curso, o restaurante, o estacionamento, o condomínio, o supermercado, a conta do celular, a compra no shopping, ou o chopp na praia?
No livro o Espírito do Dinheiro (Editora Qualitymark e Editora Ponto Vital), defendo a ideia de que o dinheiro, sendo algo material, é movido por aspectos invisíveis, que influenciam a sua entrada e a sua saída, e o quanto ele contribuirá ou não com a nossa felicidade. O sentimento envolvido nesta relação é um dos fatores que influencia o invisível.
E você, caro leitor? O que vem junto com o dinheiro quando você recebe? O que vai quando você paga?
Julio Cesar Sampaio (PCC, ICF)
Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching