“Estou indo mais ou menos. Como você sabe, fui demitido e estou tentando me recolocar. A pandemia atrapalha e não estou conseguido ser muito recebido mesmo on-line. Parece que todo mundo já está cheio de problemas e não quer ouvir notícia ruim dos outros. Obrigado por ter me recebido”.
Na tela, Rodrigo parecia menor fisicamente. Não, ele parecia menor, mas não apenas fisicamente. Estava abatido. Seus olhos não estavam sorrindo e nem brilhando. Tentei ser empático e dizer alguma mensagem de esperança, mas ele neutralizou, rebatendo com muita velocidade. O momento era difícil para ele.
Da última vez que o vira, ainda era gerente comercial de um jornal que prestei consultoria. Era alguém animado que lidava bem com metas desafiantes, era querido pela equipe e gozava de prestígio e confiança dos diretores. Compreendi logo que o motivo da sua saída tinha como causa principal a crise do setor e a reestruturação que o jornal fizera. Foram várias levas de demissões e, em uma delas, Rodrigo fora incluído. Ele já devia esperar por isso, mas os furacões nos surpreendem sempre que nos arrastam, mesmo quando exaustivamente avisados pela meteorologia.
Perguntei a Rodrigo o que planejava e o que estava fazendo para se recolocar no mercado. Ele compartilhou o seu currículo na tela e pediu-me para encaminhá-lo para alguns de meus contatos. No mesmo momento, observei que ele buscava uma posição de vendedor, abaixo de suas últimas funções. Não quis questioná-lo. Ao invés disso, disse que gostaria de conhecê-lo mais e perguntei se ele toparia escrever a sua história e conversarmos dali a alguns dias.
Rodrigo veio de família muito pobre e não muito estruturada. Dos irmãos, foi quem seguiu com os estudos. Ingressou no jornal como menor aprendiz, foi efetivado como vendedor de assinaturas externo, depois passou para o telemarketing, dali para vendedor de classificados, promovido a supervisor de equipe, depois para vendedor de publicidade, executivo de grandes contas, coordenador comercial nacional e, por fim, gerente comercial. Superou muitas dificuldades de vida, com algumas perdas pessoais, mas manteve-se sempre firme. Seguiu estudando, formou-se e pós graduou-se. Casou-se, teve um filho e tornou-se um exemplo para a família. Era uma trajetória de quase 30 anos de bastante trabalho e grande progresso. Sob todos os aspectos, Rodrigo era um vencedor.
“Rodrigo, quando você olha para a sua história, o que você vê?”. Não conseguiu responder, ele apenas chorou. “Você já compartilhou a sua história com a sua mulher e com seus filhos”?
Foi o que Rodrigo fez. Terminaram a leitura todos abraçados e chorando. Mulher e filho orgulhosos de Rodrigo. Rodrigo orgulhoso de si mesmo. Refletiram sobre fatos ocorridos, os principais aprendizados e olharam juntos o momento de transição profissional sob uma nova perspectiva. Eram novas oportunidades que se abriam.
No terceiro encontro que tivemos, Rodrigo já não estava pequeno e seu novo currículo honrava a sua história. Estava tão animado, com tantos movimentos, que chegava a contagiar quem estava à sua volta. Seus olhos vibravam e sorriam mais do que nunca.
Não demorou para que Rodrigo tivesse duas propostas de recolocação, em boas empresas, de diferentes setores. Ao invés disso, optou por uma terceira alternativa. Iria empreender. Estava disposto a correr riscos e sabia que era capaz de fazer acontecer. Sua história lhe ensinou isso. E você, caro leitor, o que a sua própria história pode lhe ensinar?
Julio Sampaio (PCC, ICF)
Idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching
Autor do Livro: Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital), dentre outros
Texto publicado no Portal Amazônia