Simon Sinek escreveu um livro que provoca boas reflexões. Chama-se O Jogo Infinito. Ele se baseou em um trabalho publicado em 1986, por James Carse, intitulado Jogos Finitos e Infinitos. É uma teoria que nos ajuda a racionalizar algo que, para mim, sempre esteve presente nas principais decisões que tomei na vida, especialmente, nos relacionamentos, no trabalho e na causa que hoje defendo, junto com companheiros no MCI, o da construção consciente de felicidade.
De uma forma bem resumida, segundo esta teoria, há jogos finitos e infinitos. Nos jogos finitos, como em qualquer esporte, há regras definidas, adversários conhecidos e uma situação que estabelece o fim do jogo, com um vencedor. Nos jogos infinitos, ao contrário, não há regras tão claras e quando há adversários, nem sempre são evidentes. Eles podem mudar durante o jogo e, principalmente, não há um fim de jogo e não há vencedores.
Os negócios, por exemplo, são jogos infinitos. Podem ter vencedores momentâneos, os líderes de mercado da vez, mas a história mostra como grandes empresas podem desaparecer do dia para a noite. Boas práticas de governança existem para dar às empresas longevidade, ou seja, continuarem no jogo, de geração a geração, de forma infinita, o mais longínquo que forem capazes. Isto é o que confere um diferencial competitivo importante para as empresas familiares, que costumam ter um sentido de missão, propósito e valores, geralmente, mais fortes e duradouros. Empresas, cujo valor é mensurado pelos humores de mercado, pelo balanço trimestral ou semestral e que premiam ou demitem seus executivos por resultados deste período, jogam com a mentalidade finita num jogo infinito. O infinito pode abranger o finito, mas não o contrário. Pensar no longo prazo não significa abrir mão do curto prazo, mas a inversão disso, frequentemente, significa sacrificar o futuro pelo imediato. O preço é sempre alto quando isto acontece.
O mesmo ocorre nos relacionamentos. Evidentemente, trata-se de um jogo infinito, onde não há um vencedor. Se existir, será um jogo de curta duração e fadado ao fracasso. Relações saudáveis são baseadas na reciprocidade, na confiança e em acordos, explícitos ou não, de valores essenciais comuns. É um jogo em que todos os envolvidos precisam ganhar e é isto que o torna infinito. Vale para relações profissionais, vale para amizades e vale para as relações amorosas. Como diria o poeta Vinicius de Moraes “que o meu amor não seja eterno, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. Infinito e eternidade não são a mesma coisa. A mentalidade infinita investe no tempo, sem prazo de validade. Ela é o oposto da predominante cultura do descartável. Aproveitando, fazer networking não significa criar relações superficiais, baseadas em gerar algum tipo de ganho imediato. Também aqui se aplica a mentalidade infinita ou finita.
Para finalizar um assunto tão infinito em linhas tão finitas, quero destacar a questão da construção consciente de felicidade. Num jogo finito, ela poderia se basear unicamente no prazer, na alegria, ou mesmo, no engajamento em alguma atividade que nos toma cem por cento, que nos coloca em estado de flow. São tipos importantes de felicidade, mas são finitos, precisam ser complementados. Numa mentalidade infinita, outras dimensões são acrescidas, como desenvolver um propósito, estabelecer boas relações e buscar metas que nos tragam realizações, principalmente, na esfera do Ser e, não, apenas no Ter ou Fazer. Também a maneira como lidamos com as dificuldades ou perdas podem nos colocar num jogo infinito, pois toda dificuldade é passageira. Práticas como a gratidão, o plantar felicidade, a resiliência e o desapego, dentre outras, são elementos predominantemente do jogo infinito. É na sua prática contínua que construiremos felicidade
Repito um conceito importante. O infinito abrange o finito, mas o inverso não é verdadeiro. E você? Que jogos finitos você está jogando? E quais são os seus jogos infinitos?
Julio Sampaio (PCC, ICF)
Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria Empresarial