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O exótico valor de um abraço amigo

Autor: Julio Sampaio

          “É provável que eu esteja em Curitiba na próxima sexta. Será que você teria um tempinho? A gente poderia almoçar ou tomar um café?”. Era uma mensagem de um amigo que mora em São Paulo e com quem não estava fisicamente há muito anos. Nos últimos meses nossos contatos vinham sendo frequentes, mas sempre virtualmente. Respondi: “sim, claro, será um prazer”, mas, na verdade, não sabia como fazer. Neste dia tinha uma reunião com um importante cliente, por toda a manhã, que deveria se complementar com um almoço. Já no início da tarde iniciavam outras reuniões e atendimentos que se estenderiam até às 21h, ou um pouco mais. Era um daqueles dias, previamente cheios. Como gerar uma brecha sem ficar em falta com ninguém? Ponderei e decidi que não participaria do almoço com o cliente (e amigos também) e teria um tempo para o meu amigo Cláudio.  

          Estamos ambos vacinados, o que nos deixou mais à vontade. Relembramos histórias antigas e acontecimentos recentes. Cláudio passara momentos difíceis nos últimos anos e finalmente estava conseguindo retornar ao mercado de trabalho. Mesmo sendo em uma posição bem aquém da que já ocupara, estava muito feliz. Todas as dificuldades que enfrentara o transformaram em uma outra pessoa. Mais humana, mais sensível, mais espiritualizada. Ele mudara a tal ponto de ser agora cobrado pela família e pelas pessoas mais próximas de já não ser o mesmo. Sua ex-mulher, agora amiga, reclama brincando: “no meu tempo você não era assim, não era tão gentil, por que somente agora?”. Pensei como é estranho o fato de sermos cobrados para não mudar, para sermos coerentes com os nossos defeitos, não é mesmo?  

          Somente no fim do almoço, soube dos motivos de sua viagem, primeiramente para Itajaí e depois para Curitiba. Na cidade de Santa Catarina mora um amigo dele que, não apenas encaminhou o currículo de Cláudio para uma conceituada empresa, como defendeu que ele fosse ao menos entrevistado, mesmo o seu currículo parecer inadequado para a função, pelos excessivos atributos. O resto seria com Cláudio, que conseguiu contrapor os questionamentos dos entrevistadores e conquistar a vaga. Cláudio viajou de São Paulo para Itajaí para agradecer pessoalmente ao tal amigo. Também era este o motivo de sua ida a Curitiba, para agradecer pessoalmente o apoio que diz ter recebido de mim nos últimos tempos. Não foi um apoio material, mas entendi o que ele reconheceu ter recebido, não sendo necessária nenhuma explicação adicional. 

          Alguém próximo lhe questionou: “precisa de tanto sacrifício, ir tão longe, para dizer obrigado? Você não pode enviar um e-mail, dar um telefonema, ou coisa assim? Não seria a mesma coisa?”. Não para Cláudio. Não também para um outro amigo, Moreira. Ele tem o estranho hábito de sair de Brasília para São Paulo, Manaus, Rio, Vitória e até Paris apenas para dar um abraço pessoalmente a um amigo, no dia de seu aniversário. Recebi dele e da esposa, Lourdinha, esta homenagem uma vez. Vieram a Curitiba, almoçamos e eles voltaram para Brasília. Como explicar isto? Parece tão ilógico neste mundo tão prático, não é mesmo?” 

          Faltou dizer que não é a mesma coisa somente para eles. Também para quem recebe este abraço é muito diferente. Como diz uma destas pessoas homenageadas: “É receber o presente de um amigo estar presente, sendo este o melhor presente”. Neste momento somos obrigados a fugir de contatos físicos e muita coisa é feita virtualmente, o que é útil e necessário. Além disso, é difícil estar 100% presentes com alguém, sem os desvios do celular e dos pensamentos. Por tudo isto, vale lembrar o quanto é especial um abraço amigo verdadeiro, por mais estranho e exótico que possa parecer. Caro leitor, quanto vale para você um forte abraço amigo?  

 

Julio Sampaio (PCC, ICF)

Idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching

Autor do Livro: Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital), dentre outros