Há muitas maneiras de se encarar cada ano que vivemos, cada aniversário que fazemos. Alguns pensarão a velha frase de que “envelhecer só é bom porque a outra opção é pior”. Já ouvi de alguém algo mais contundente: “a velhice é um período de perdas”. Pode ser que eu esteja errado e pode ser que depois eu mude de ideia quando e se as perdas acontecerem, antes que eu parta para uma nova dimensão. No presente, no entanto, a idade me trouxe muito.
Oficialmente, já estou na terceira idade e gozo do benefício do cartão de estacionamento de idoso, o que me dá sempre um prazer especial, quando o utilizo. Também tenho usufruído de alguns descontos para maiores de 60, desde em drogarias, como em entradas de shows ou de passeios turísticos. Como viajo com frequência (não tanto profissionalmente quanto antes, mas nem tão pouco), ainda estou como Gold ou Premium em companhias áreas, mas nada me dá tanto prazer na viagem quanto a fila das prioridades por lei.
A idade me trouxe algo que nenhum jovem tem: netos. Até agora são cinco homens e agora uma menina está a caminho. Mas antes dos netos, a vida me deu algo que é tão bom quanto, duas filhas adultas, independentes, excelentes pessoas, que contribuem com o mundo e com quem está ao redor.
Fisicamente, posso não estar tão em forma quanto já estive, mas consigo fazer meus exercícios, trabalho como sempre trabalhei e me divirto bastante, fazendo tudo o que desejo fazer. Sei que um dia não será assim, mas que seja assim, enquanto é, como diz uma música.
O tempo também me deu experiência e me tirou a ansiedade, não toda, mas uma parte dela, a que era nociva. Ele me fez ser mais presente e a degustar melhor os momentos, os sabores, as pessoas, os amigos, a minha mulher. Também a lidar melhor com a complexidade e a simplicidade da vida. O tempo me tirou muito do desejo de ter e potencializou a ambição de ser. Também do saber. Boa parte da vida estudei para passar, tirar nota, receber certificados. Hoje leio e estudo muito mais, apenas para saber.
O passar dos anos me trouxe mais perguntas e menos certezas. Como consultor, já não tenho tantas respostas para os meus clientes. Tenho mais questões a fazer e consigo contribuir mais, pensando junto, ajudando-os a encontrar as suas próprias respostas. São respostas melhores. E para mim é libertador não ter o ônus de sempre saber e estar certo.
Quanto mais vou pensando, mais vou descobrindo ganhos que a vida me trouxe. É o tal vórtice positivo, a espiral que se retroalimenta e que torna efetivo o exercício da construção consciente da felicidade. Nossa mente e nosso espírito podem vibrar em frequências positivas ou negativas, diante da mesma realidade.
A vida trouxe perdas ao longo dos anos? Sim, é claro, mas em todas elas, tive a oportunidade de crescer e de aprender, o que não quer dizer que tenha conseguido sempre o melhor. Posso não ter escolhido o que veio, mas o que fiz com o que veio foi sempre uma questão minha.
Como um “velho senhor”, não quero tirar vantagem dos mais jovens. Sei como é ser jovem, porque já fui um dia. Sei que eles saberão o que é ser mais velho, quando chegarem até aqui. Isto não ocorre de imediato. A cada dia, o tempo nos oferece a transformação. Ela não é opcional, mas pode ser bem ou mal recebida e usufruída.
Como disse, não quero tirar vantagem, mas quando era jovem, eu tinha um mundo de possibilidades. Hoje tenho um conjunto de realizações, que vivi e que existirão para sempre. Elas estão lá no passado. Eu estou no presente. O futuro ainda vai chegar. Como é bom um novo ano. Como é bom envelhecer.