Uma das frases que ouvi muitas vezes, desde que era criança é: “Felicidade não existe. O que existe são momentos felizes”. Você já ouviu esta frase? Eu ouvi muitas vezes e de muitas pessoas ao longo da vida. Talvez eu mesmo já tenha acreditado nisto sem perceber. Talvez eu mesmo a tenha repetido em um contexto qualquer. É uma frase que soa bem, parece inteligente e realista. É fácil aceitá-la e transformá-la numa crença. É assim que crenças são formadas e fortalecidas a cada vez que as ouvimos e repetimos. Com o tempo, sua conexão neural, a de qualquer crença, transforma-se em parte de nós mesmos, não precisando nem chegar ao cérebro. Transforma-se em uma verdade. Neste caso, trata-se de uma verdade falsa.
Respeito quem pensa diferente, mas afirmo que ela não traduz a realidade. Mais do que isso, ela não nos ajuda. Pensar que a felicidade não existe é assumir um posicionamento pessimista, mesmo que a pessoa não admita isso. O pessimismo não é uma boa companhia. Ele limita o uso de nosso potencial e canaliza energia para centros neurais da defesa e da sobrevivência e não do crescimento, da inovação e da criatividade. Aliás, é comum o pessimismo surgir como uma autoproteção, do tipo, “se eu esperar o pior, não vou me decepcionar”. A verdade é que se eu esperar o pior, não faz sentido eu utilizar toda a energia e recursos em favor de uma ideia ou projeto que eu não acredito que vai dar certo. Nosso inconsciente é o primeiro a pensar assim.
No caso da felicidade, se eu acreditar que ela não existe, mas apenas momentos felizes, então, talvez seja melhor eu aguardá-los e aproveitar ao máximo quando ocorrerem. “Não há muito o que fazer, a vida é assim mesmo e não há como mudar o destino”, diria uma outra crença também comum. Uma crença positiva, a de que podemos fazer o nosso destino, nos leva a ação e traz para cada um de nós a responsabilidade de construir felicidade. Sendo duas crenças contrárias, qual delas seria a verdadeira? Penso que as duas, pois são como profecias autorrealizáveis. Se eu acreditar que não depende de mim, estarei nas mãos da sorte e dos acontecimentos externos. Se acreditar que cabe a mim essa construção, serei estimulado por mim mesmo a fazer por onde.
Assim, proponho inverter a frase anterior. Na sua nova versão: “A felicidade existe. Dentro dela, existem momentos difíceis”. Conforme escrevi no domingo, se todos os dias fossem como um domingo de sol, que graça eles teriam? Segundas-feiras cinzentas têm a sua importância e valorizam os domingos de sol, assim a escuridão que qualifica a claridade.
Ser uma pessoa grata e otimista, por exemplo, não significa não enxergar as dificuldades, não passar por perdas ou não sentir tristeza em alguns momentos. A felicidade inclui lidar com dificuldades e tristezas, sem nos prender a elas. Há o momento de sofrer e de chorar e há o momento de levantar a cabeça e seguir. Em situações de maior fragilidade, costumo lembrar-me da autoprovocação feita por Viktor Frankl diante das atrocidades do campo de concentração de Auschwitz: “o que a vida espera de mim?”. Todos nós temos momentos em que a vida espera de nós algum tipo de resposta, que será somente nossa. Está dentro do pacote de felicidade lidar com estes instantes.
Assim, proponho que repitamos muitas e muitas vezes uma nova versão da tal frase anterior. Sim, “A felicidade existe. Dentro dela, existem momentos difíceis”. Segundas-feiras cinzentas também são úteis e não ficarão para sempre.
Julio Cesar Sampaio (PCC, ICF)
Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching