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Felicidade inclui alegrias e tristezas

Autor: Julio Sampaio

Algumas pessoas confundem felicidade com alegria, no entanto, são coisas bem diferentes. Alegria, assim como bem-estar, refere-se ao momento, enquanto felicidade é algo mais duradouro. Abrange momentos de alegria, mas também os relacionados ao propósito, ao engajamento, aos relacionamentos e mesmo às dificuldades. Num sentido mais amplo, inclui até o sofrimento. 

Todas as pessoas experimentam perdas, sentem diferentes dores e passam por sofrimentos. Nem por isso, estão condenadas a serem infelizes, ou melhor, a não serem felizes. Ser infeliz não significa ser feliz. Felicidade é mais do que isso e é algo ativo, não cai do céu. 

A felicidade é sempre um efeito indireto, mas precisa ser construída. É difícil de entender e de explicar. Ninguém é feliz pensando apenas na sua própria felicidade. Conscientemente, é preciso saber que somente plantando felicidade para os outros (altruísmo) é possível colher felicidade para si (efeito indireto). Quem diz é a filosofia, as religiões, a neurociência, a psicologia e, principalmente, a vida prática. É hoje indiscutível que altruísmo, gratidão e resiliência, dentre outras emoções e ações positivas, constroem felicidade. Mas e o sofrimento? O que ele tem a ver com a felicidade?

Viktor Frankl afirma que, se a vida tem um sentido, então, o sofrimento também o terá. Na logoterapia, criada por ele, fala-se em otimismo trágico, defendendo-se a ideia de que é possível ser e permanecer otimista, apesar do que ela chama da tríade trágica: a dor, a culpa e a morte. O próprio Frankl  levanta a questão: como é possível dizer sim à vida, apesar de tudo isto? Sua conclusão é de que o que importa é tirar o melhor proveito de cada situação. Mesmo diante de um quadro em que não há mais o que fazer, somos desafiados a melhorar a nós mesmos e transformar uma tragédia pessoal em uma conquista humana.

 O sofrimento traz consigo a oportunidade da reviravolta e da realização. São os sofrimentos e os obstáculos superados que reforçam a autoestima e conquistam a admiração dos outros. Nós nos inspiramos em pessoas que enfrentaram dificuldades fora do comum e que saíram delas melhores e maiores do que entraram.

Mesmo a morte, indesejada e inevitável, fortalece o sentido da vida. Ela nos lembra que a vida é curta e de que é preciso fazer bom uso do tempo para desfrutá-la, cumprirmos a nossa missão, conquistar o nosso propósito e deixar um legado que valorize a nossa existência.

Mokiti Okada também atribui um sentido ao sofrimento. Ele afirma: “todos os sofrimentos são ações purificadoras”. O filósofo e líder espiritualista fala em eliminação de nuvens espirituais e de toxinas.  Doenças, problemas financeiros e conflitos, individuais ou em grande escala, seriam processos purificadores necessários para a nossa evolução. A maneira como compreendemos o sofrimento determina a maneira que lidamos com ele. Mais uma vez, está dentro de nós a escolha.

Neste momento, há pessoas que, tendo todas as circunstâncias para isso, não estão felizes. Há outras com dor e com perdas, mas que conseguem tirar o melhor proveito da situação, respondendo à vida de uma maneira que as faz melhores e maiores. Entre estes dois tipos de pessoas, quem estará mais próximo da felicidade?

Há uma música de Vinicius de Moraes que traz a poesia: “É melhor ser alegre que ser triste. Alegria é a melhor coisa que existe. É assim como a luz no coração. Mas para fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza, é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba não”.

Seria doentio buscar a tristeza ao invés de alegria, mas os sofrimentos virão, independentemente de nosso desejo. Nestes momentos, podemos e devemos chorar, o que nos torna ainda mais humanos. Mas podemos ir além, compreendendo e tirando dos acontecimentos o melhor proveito. Se conseguirmos, estaremos construindo Felicidade muito além da alegria.

 

 

Julio Sampaio (PCC, ICF) 

Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria Empresarial