Recebi significativos comentários sobre o artigo anterior em que defendia que os pais de hoje parecem ter maior preocupação com o bem-estar do que os pais da minha geração, mas que bem-estar não significa felicidade. Argumentei que para serem felizes de uma forma mais consistente, nossas crianças precisam ser estimuladas a desenvolver um modelo mental de gratidão e de altruísmo. Em todos os estudos da psicologia positiva sobre felicidade, os dois componentes aparecem com destaque.
A maior parte dos comentários era de pais que hoje vivem um estilo de vida sacrificante, mas que entendem que estão oferecendo o melhor para os seus filhos. Ao ouvi-los, eu me sinto estimulado a reforçar ainda alguns outros pontos essenciais para os pais que querem oferecer mais do que bem-estar.
Antes disso, porém, registro que reconheço, nos pais das novas gerações, um nível de consciência elevado sobre a sua responsabilidade na educação dos filhos. Há mais informações disponíveis e o interesse não ocorre apenas por parte das mães, como era comum no passado. Para começar, trocar fraldas do bebê atualmente é dever de mãe e de pai. Depois vêm o acompanhamento das notas, as festinhas da escola, a ida ao médico, a ajuda de lições de casa ou os horários de brincar. O senso comum hoje nos diz que pai e mãe devem estar juntos nesta jornada. Parece óbvio, mas não foi assim em outros tempos. É preciso comemorar estas conquistas, que não são pequenas. No entanto, como é natural em uma fase de mudanças, tende-se a adotar um extremo contrário. Neste caso, pais sacrificados, valorizando mais a condição de amigos do que de pais. Costumo brincar com as minhas filhas, mesmo já adultas, dizendo que sou amigo, mas que pai não é coleguinha. Não que elas precisem ser lembradas disso, ao contrário.
É na infância o momento mais favorável para o desenvolvimento de atitudes gratas e altruístas. Um adulto com um modelo mental egoísta, ingrato e pessimista terá muito mais dificuldades de se transformar e assim se aproximar de uma vida mais feliz, independentemente de fatores externos.
Uma pessoa que cresce acostumada a ter tudo, sem esforço, não desenvolverá resiliência e poderá tornar-se alguém que desiste facilmente de seus objetivos. Lidar com obstáculos e aprender que as coisas precisam ser conquistadas ajuda a desenvolver resiliência, ao mesmo tempo que conduz à luta pela superação de metas. Resiliência e conquista de metas são elementos importantes para a construção da felicidade.
Aprender a desfrutar da alegria e da leveza servirá como um grande antídoto contra o hábito do mau humor, do ver tudo com um excessivo peso e da dificuldade de viver o presente, sem apego ao passado ou a preocupações desnecessárias com o futuro. Ajudará também a vivenciar melhor a beleza e a arte, nas suas diversas formas.
A existência de um sentido para a vida contribui para a saúde mental e é a melhor prevenção contra diversos tipos de doenças, dentre elas, a depressão e o vazio existencial. Ter um sentido é buscar a consciência de uma missão, desenvolver um propósito e trabalhar um legado. Isto costuma vir mais tarde, numa fase mais adulta. Para começar, podemos estimular as crianças a ter sonhos e a fazer movimentos neste sentido. Podemos ajudá-las a sonhar sonhos construtivos, benéficos para mais pessoas.
A consciência de que somos responsáveis pelas nossas escolhas e pela construção de nosso próprio destino estimula a autorresponsabilidade. Há muita força quando este pensamento se soma à crença na existência de uma Força Superior que promove a Felicidade, quando seguimos as Suas Grandes Leis.
Que todos possam oferecer bem-estar aos seus filhos, mas que não deixem de cuidar da Felicidade!
Julio Sampaio (PCC, ICF)
Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria Empresarial