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ESG-F além dos céticos e dos cínicos

Autor: Julio Sampaio

Não é utopia pensar que empresas podem ser locais em que as pessoas se desenvolvam e que sejam felizes enquanto estão trabalhando. Será que ainda existem cabeças pensantes que dissociam felicidade de produtividade? Pessoas felizes são mais produtivas. Ponto. Não há o que questionar e é estranho ter que destacar algo tão óbvio. Dizer isso é uma afirmativa pró-empregado ou pró-empresa, ou pró-quem? É um pensamento de esquerda ou de direita?

Sinceramente não saberia o que dizer se tivesse que escolher apenas uma resposta. Ao contrário da política que parece atualmente nos empurrar (no mundo) para os extremos, não é o que acontece no mundo real dos negócios, onde é possível, e desejado, que interesses de pessoas e de empresas, assim como de seus diversos públicos, caminhem juntos, a despeito do ceticismo ou do cinismo. 

Os céticos não acreditam que é possível e veem isso como ingenuidade ou má intenção. Os cínicos se empoderam dos discursos e procuram levar algum tipo de vantagem, antes que outro alguém o faça.

A empresa X é real e eu a acompanho há anos. Ela adota práticas reais que favorecem o crescimento e a felicidade dos sócios e colaboradores. Ela também é uma empresa competitiva que atua em um mercado disputado, onde vem se saindo muito bem. Seus números financeiros são admiráveis. Boa parte de seus colaboradores veste literalmente a camisa da empresa e demonstra isso com comprometimento e dedicação além. Outros entram, não ficam muito tempo e saem. Não importa o propósito, a superação de metas, o ambiente, o salário e os benefícios. Para eles, trabalho é trabalho e não é lugar para ser feliz. Colocam-se friamente imunes a tudo isso, talvez presos a uma crença de que tal mundo não é real.

Acompanho a empresa Y a menos tempo, mas que me surpreendeu quando a conheci por dentro. Tratando-se de uma empresa de alta tecnologia, é de se supor que ela valorize especialmente o conhecimento técnico. Investe uma boa parte de seu orçamento em pesquisas e parecia ser este o seu diferencial. Ouço, no entanto, de sua diretoria, algo como: “Estamos precisando de mais conhecimento humano. Temos muita técnica. Precisamos entender mais de pessoas, de como lidar com nossas emoções, que as pessoas sejam mais felizes. É disso que precisamos agora”. Esta companhia é uma multinacional, tem 110 anos e é uma referência no seu segmento, não tendo nada de ingênua.

Há uma terceira empresa, a Z, em que o tema Felicidade é algo novo. Seu fundador tinha até um certo preconceito quanto à palavra. Talvez associasse a felicidade a algo superficial, ligada a euforia ou exclusivamente alegria. De origem oriental, sempre valorizou o trabalho, o esforço e a busca de resultados. Quando conheceu outras dimensões que compõem a felicidade, percebeu o quanto ela se identifica com os próprios valores, os da família e os da empresa que já tem a sua própria história de quase 30 anos. Desde então, a empresa Z vem implementando práticas de construção consciente de felicidade e os resultados vêm sendo muito positivos, especialmente na atração e retenção de bons profissionais, que veem no trabalho, algo mais do que meio de sobrevivência.

É mesmo uma sopa de letras. Empresas X, Y e Z, assim como outras, podem incorporar o F à sigla ESG (Ambiente, Social e Governança em inglês) adotando oficialmente o ESG-F, ainda que não sejam perfeitas. Pessoas e empresas não são perfeitas. Mas ao assumirem este posicionamento, estarão declarando compromissos e fazendo um convite aos colaboradores e demais stakeholders (partes interessadas): o de fazer a sua parte na construção de um mundo feliz e produtivo, dentro e fora de suas paredes. Sim, fazerem um convite. Sempre haverá os céticos e os cínicos. 

Na semana do Dia Internacional da Felicidade e do sexto aniversário do MCI, reforçamos a proposta na sopa de letras: vamos incluir o F no ESG?

 

Julio Sampaio (PCC, ICF) 

Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria Empresarial