A personalidade está relacionada à maneira como pensamos, sentimos e agimos em determinado contexto social, assim como a maneira como somos percebidos pelos outros. Seria válido pensar que empresas, como seres vivos, também possuem uma personalidade? Vimos em artigos anteriores que, como nós, cada companhia possui a sua história e a sua identidade, que as tornam únicas, ainda que estejamos falando de empresas do mesmo segmento, volume de negócios e linha de produtos. A identidade é constituída por fatores invisíveis e representa a essência, nossa, de cada ser e de cada empresa.
No caso da personalidade, já estamos falamos de coisas que são mais facilmente percebidas, traduzidas, no caso de organizações, na sua estratégia, na maneira como ocorrem as suas relações e na forma como utilizam o seu insumo vital que, ao contrário do que diria o senso comum, não é o capital, mas o fator tempo. Estes elementos, ainda não materiais, formam o que costumamos chamar de diferenciais de uma empresa frente a outras, uma vez que são o que percebemos.
Na elaboração da estratégia, pode-se fazer uso de muitas técnicas, desde a tradicional análise SWOT (sigla em inglês para forças, fraquezas, oportunidades e ameaças), a técnicas mais recentes, como Lean e outras, que traduzem a cultura startup. Todas podem ser válidas, desde que plenamente alinhadas à sua identidade (a dimensão ser).
É comum que as discussões sobre a estratégia se iniciem sem ao menos a considerarem, o que constitui um grande erro. Parte-se do sapato para o pé. É o que produz, o que chamo de estratégias comodities, que serviriam para qualquer um e que não diferenciam ninguém. Um exemplo atual são as fórmulas no campo do marketing digital. Mas isto é outro assunto.
Voltando à estratégia, há algumas décadas, havia um grande ritual, de meses, para a construção de um documento chamado plano estratégico. Era elaborado por um pequeno grupo da alta direção, desdobrado depois nos níveis táticos e operacionais. Uma vez pronto, descia degrau a degrau na hierarquia da empresa. Eram comuns planos para 5 anos ou mais.
Vivemos hoje uma outra realidade, onde as estratégias precisam funcionar como o aplicativo Waze, com ajustes na rota, conforme as rápidas mudanças de cenário. Precisam ser dirigidas na ponta, sem muito tempo de subir ou descer no organograma da empresa. Isto pode dar a impressão de que não é possível definir-se claramente uma estratégia. Ao contrário, mais do que nunca é necessário que a estratégia seja clara e esteja na cabeça e no coração de todos, pois várias pessoas tomarão rápidas decisões, tendo ela como referência. A exemplo do Waze, muda-se o roteiro, mas não o destino.
Como dito, ela precisa ser compartilhada por todos que a compõem. Ao ser implementada, ganhará forma em ações e projetos de diferentes tipos, sob a responsabilidade de setores ou colaboradores, conforme o porte e estrutura da organização. Garantir que todos estejam alinhados e que a estratégia reflita a sua identidade é o papel da alta direção.
A estratégia é assim um componente importante da personalidade deste ser vivo. Mas não é o único. Como são ou deveriam ser as suas relações, internas e externas? Mas isso fica para a próxima semana
Julio Sampaio (PCC, ICF)
Idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching
Autor do Livro: Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital), dentre outros
Texto publicado no Portal Amazônia