Caro leitor, no artigo da semana passada, vimos como o senso comum nos leva a acreditar que é nos finais de semana e nas férias que seremos mais felizes. Ao contrário, os estudos mostram que, quando confrontadas as sensações com as atividades que exercemos, boa parte do sentimento de bem-estar subjetivo (uma definição de felicidade), é vivenciada no trabalho.
Paul Dolan em seu livro Felicidade Construída defende que a felicidade pode ser resumida pela quantidade que temos de momentos de prazer e momentos de propósito. O propósito nem sempre está associado ao prazer, exigindo muitas vezes sacrifícios, que não teriam razão, não fosse o significado que atribuímos a eles. Educar filhos, lutar contra as discriminações das minorias, defender os mais necessitados ou dedicar por dezenas de anos nas atividades de sua igreja, são atividades mais relacionadas ao propósito do que ao prazer. No entanto, costumam ser abraçadas voluntariamente, com muito empenho, gerando um grande volume de esforços. Costumam, por outro lado, ser fontes de muitas realizações também. Uma parte destas recompensas não virá depois, como fruto de seus resultados, mas durante a própria ação.
Fazer o que tem significado para nós proporciona felicidade instantânea, valendo pela atividade em si, atendendo o que Abraham Maslow chamou de motivação intrínseca. O que sente uma mãe quando dá banho em seu bebê?
Uma maneira de desenvolvermos um propósito (vem de dentro, uma causa) é refletir sobre a nossa missão (atribuída externamente, uma finalidade). Aplicado isto ao trabalho, podemos pensar: por que o meu cargo existe? Qual a finalidade maior do que faço? Para quem eu trabalho, e qual é o propósito da minha empresa? Missão e Propósito alinhados significam Sentido, o que, acredito, seja ainda mais forte para a felicidade.
Mihaly Csikszentmihalyi traz ainda uma terceira dimensão da felicidade, a do flow, que é frequentemente representada como a sensação de um artista quando pinta um quadro, compõe uma música ou faz uma apresentação de dança. Em todas estas atividades, o artista pode viver 100% o momento, lida com um desafio que exige as suas habilidades máximas e experimenta uma sensação distorcida do tempo.
Vivencia um tipo de concentração inconsciente, o que é até difícil descrever. A questão é: além da arte, que outros tipos de trabalho são capazes de nos proporcionar estas sensações tão plenas?
Mais uma vez, os estudos contrariam o senso comum e apontam que qualquer trabalho é capaz de provocar a sensação de fruição, mesmo os considerados mais simples. Há registros de operários, com atribuições extremamente repetitivas que encontram maneiras de desenvolver excelência contínua, seja, por exemplo, na velocidade ou no detalhe da qualidade, imperceptível para olhares comuns. Um bom sommelier talvez seja capaz de diferenciar uma safra, a maior parte deles apontar o tipo de uva e os leigos, como eu, tratar-se simplesmente de um vinho. Em qualquer atividade podemos agregar complexidade e isto significa um tipo de evolução de consciência e de potencial desfrute (degustação, fruição...).
Desenvolver prazer, fruição (flow) e propósito em nosso trabalho não depende de ninguém, apenas de nós mesmos. Está dentro do âmbito da felicidade construída que não depende de fatores externos.
Isto vale fortemente para nós “pessoas seres humanos”. E para as “pessoas seres empresas”? Como a felicidade se aplica para estes seres, caro leitor? Podemos conversar sobre isto no próximo artigo?
Julio Sampaio (PCC, ICF)
Idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching
Autor do Livro: Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital), dentre outros
Texto publicado no Portal Amazônia