Questionamento de um dos meus dezesseis leitores: “Consigo entender o quanto a influência que um dono de uma empresa exerce sobre as pessoas que trabalham nela. Sendo a empresa de um único dono, ela tem a sua cara. No entanto, quando você fala da influência de avós sobre netos distantes, com pouco convívio, só consigo relacionar à genética, traços que a família carrega e são transmitidos aos descendentes. Como é que a minha mãe, que mora em um país distante e tem pouco contato com meu filho, poderia influenciar a felicidade dele, a não ser que seja pela genética?”
Sim, existem características de uma determinada família que podem ser atribuídas à genética, sendo transmitidas de uma geração a outra. Quando se trata de modelos mentais e comportamentos, porém, estas características estarão mais associadas a aspectos culturais ou educacionais. Ocorre em tribos indígenas e em famílias urbanas. Crenças, valores e comportamentos são transmitidos de avós para pais, destes para os filhos, netos e assim por diante. Neste caso, não vale só o que está escrito, mas o que é vivenciado, ouvido e observado.
Há, ainda, um outro tipo de comunicação que não é nem ouvida e nem vista, mas que exerce uma grande influência. É a conexão por meio dos elos invisíveis ou elos espirituais, como nos ensina Mokiti Okada, e que comentei no artigo: “Felicidade dos netos, o que nos cabe como avós?”. Esta influência não se limita aos nossos consanguíneos e nem com quem convivemos mais diretamente, embora, isto fortaleça ainda mais.
Como citado na questão, o dono de uma empresa possui elos invisíveis com todos os seus colaboradores. Um presidente de um país, com toda a população, um professor com os seus alunos, um artista com os que terão contato com a sua obra. Alguns destes elos são criados e dissolvidos. Outros, os consanguíneos, não podem ser desfeitos.
Alguns destes elos, mesmo que não tenhamos consciência, servirão como uma espécie de energia positiva e nos ajudarão a ser melhores como pessoas e a sermos mais felizes. Outros, ao contrário, nos afastarão disso, exercendo uma má influência, como se fossem “más companhias”, que os pais costumam tentar evitar para os filhos quando são pequenos.
A grande questão é que, sem ter esta consciência, não compreendemos o quanto podemos influenciar positivamente ou negativamente o mundo, uma vez que toda influência exercida pode ser propagada de uma forma sucessiva. Um professor, por exemplo, pode acreditar que a sua responsabilidade é somente transmitir aquele determinado conhecimento, desconhecendo o seu efeito sobre o caráter dos alunos. Um líder de uma equipe pode se limitar a uma formação técnica, acreditando ser isto suficiente, descuidando de tornar-se uma melhor pessoa.
O caso dos pais é ainda mais evidente. Queremos sempre melhorar os nossos filhos. É importante o que falamos para eles. Mais importante ainda é o que fazemos e que é visto. Se há incoerência entre o que falamos e o que fazemos, o maior peso será dado ao que é observado. Além disso, há algo mais forte: o que somos. Há uma hierarquia inversa entre as forças do falar, fazer e ser. Pais que querem melhorar os filhos precisam primeiro melhorar a si mesmos. Serem ainda melhores pessoas.
A leitora acima comentou que a mãe mora em um país distante do neto, como é o meu caso também, sendo raro o convívio. No entanto, podemos contribuir para que sejam melhores como pessoas e mais felizes, sendo nós mesmos melhores e mais felizes. Isto inclui trabalharmos pela felicidade de nosso entorno, exercendo uma boa influência por meio de todos os elos invisíveis que possuímos. Aliás, o “Exercício do Elos Invisíveis” é um dos que compõem o Método MCI de Felicidade.
Não sei quanto a você, leitor, mas a mim, ter a consciência da existência de elos invisíveis, me faz sentir as oportunidades e a responsabilidade ainda maior pela melhoria do mundo e pela construção da felicidade de todos nós.
Julio Sampaio (PCC, ICF)
Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria Empresarial