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É preciso colocar espírito no ESG

Autor: Julio Sampaio

Maria Clara, João Carlos e Bernardete declaram que já sentiram orgulho da empresa em que trabalham. Ingressaram atraídos por uma marca-referência quanto às boas práticas de ASG no Brasil. Como se sabe, a sigla refere-se a Ambiente, Social e Governança (em inglês ESG). Ou seja, empresas que se comprometem a práticas responsáveis quanto ao meio ambiente, promovem ações de cunho social e cuidam de sua governança, o que sugere estarem seguindo regras de conduta (compliance) e olhando a sua longevidade.  

Empresas com estas características possuem um valor, que vai além do aspecto econômico. Na pandemia, por exemplo, empresas ESG ganharam ainda mais importância, mostrando-se mais resilientes às crises, sobretudo as que tinham um forte propósito. Os maiores grupos de investimentos do mundo, como por exemplo, a Black Rock, orientaram fortemente os seus administradores de fundos que direcionassem seus investimentos, exclusivamente, para empresas com estas características.  

Como era de se esperar, isto gerou uma corrida do ouro, onde todo mundo, de uma hora para outra, se transformou em um praticante ESG de carteirinha. Consultorias especializadas em ESG foram criadas e até incorporadas por consultorias internacionais tradicionais, visando a uma rápida adaptação às novas exigências de mercado. Empresas multinacionais passaram a exigir de seus fornecedores não apenas seus serviços ou produtos, mas também a comprovação de que adotam em seus negócios tais práticas. Não há como negar que tudo isto promoveu avanços no que antes era chamado de RSC (Responsabilidade Social Corporativa), uma sigla que já teve os seus momentos de glória. Outros termos como Desenvolvimento Sustentável, Sustentabilidade, Empresas de Impacto, Agenda Verde e Sistema B também se relacionam a fazer negócios, fazendo o bem. Em todas eles, há um lado legítimo, verdadeiro e há uma sombra daqueles que tentam apenas se apoderar do discurso, fazer algum tipo de maquiagem e instrumentar o seu marketing. Como em tudo, nem sempre é fácil separar o joio do trigo. De qualquer forma, no todo, estamos avançando, até porque as novas gerações, como consumidores e como trabalhadores, exigem, cada vez mais, coerência entre discurso e prática. 

É o caso de Maria Clara, João Carlos e Bernardete. Eles não reconhecem no dia a dia, a narrativa da empresa. Além disso, apesar de todos os protocolos ESG serem cumpridos, as pessoas não estão felizes. Há cuidado com o meio ambiente, a empresa desenvolve ações sociais e há práticas de governança e compliance. No entanto, as lideranças não são inspiradoras, não predomina um clima de confiança entre os colegas, os colaboradores não fazem uso de seu maior potencial e não há um propósito que represente uma causa valiosa. Ou seja, o nível de engajamento é baixo, quase que também protocolar. Falta bem-estar, florescimento, felicidade. 

Mas seriam Maria Clara, João Carlos e Bernardete agentes passivos deste processo? O que está ao alcance de cada um interiorizar como sua causa e assim contribuir na construção da empresa que desejam trabalhar? São “filhos da casa” ou “adultos da família”? Dirigentes desta mesma empresa apontam que falta reconhecimento por parte dos colaboradores. 

É ingênuo esperar perfeição das empresas e das pessoas. É alienante pensar que as coisas serão resolvidas, externamente, pelos outros.  É o desejo de fazer acontecer que torna o jogo tão emocionante. Vale para os dirigentes e para Maria Clara, João Carlos e Bernardete. Tenho defendido que na sigla ESG falta uma letra essencial, o F de felicidade. E felicidade não cai do céu, precisa ser construída conscientemente, por todos.  

Já que as siglas e os termos evoluem, que tal adotar o ESG-F já?  

 

 

Julio Sampaio (PCC, ICF)  

Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute 

Diretor da Resultado Consultoria Empresarial