De um dia para o outro, famílias perderam tudo o que haviam conseguido construir em décadas. Todo o dinheiro que tinham na bolsa virou pó e arrastou os outros bens que restavam. Tentando se livrar da insuportável dor, chefes de família acabavam com a própria vida, deixando para trás ainda mais sofrimento. Aconteceu em 1929 e, em uma proporção menor, em 2008.
Mais recentemente, tivemos as barragens de Mariana e de Brumadinho e as calamidades pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Isto para não contar as enchentes, secas ou queimadas que ocorrem todos os anos. Sabemos que as calamidades estão cada vez mais fortes e frequentes.
Quando elas ocorrem, é comum famílias perderem todos os seus bens materiais, sendo que, a maioria dos atingidos, são os que não têm muitas coisa. Vários ficam até mesmo sem local para morar. E nem quero pensar na perda de pessoas amadas nestes episódios. Para quem não viveu na pele, como é o meu caso, talvez não seja possível dimensionar o sofrimento.
Talvez alguns destes episódios pudessem ter sido evitados por políticas públicas e ações individuais responsáveis, mas não quero, no momento, me deter neste aspecto. O que gostaria de ressaltar é que nossa gestão sobre os acontecimentos externos é muito restrita. A verdade é que não temos domínio sobre fatos que afetam diretamente as nossas vidas, ou de quem amamos. Para sermos felizes, objetivo maior do ser humano, é preciso encarar esta realidade.
Não temos domínio sobre os eventos, mas podemos reagir diante deles de diferentes maneiras. É certo que enfrentaremos dificuldades e perdas. Saber disso, me lembra que somos vulneráveis, o que nos humaniza. Também me lembra que preciso valorizar a vida, valorizar as pessoas, valorizar o que tenho a permissão de usufruir. Tudo é temporário. Posso sofrer por saber disso. Posso valorizar e desfrutar melhor a vida e as pessoas, por saber disso.
Gosto da ideia defendida por Sêneca, de que tudo que temos é emprestado. Um dia deixaremos tudo, as pessoas e os bens. Se continuarmos a existir depois da morte (não sei, você, mas eu acredito que sim), precisaremos lidar com esta realidade. Será que a vida não nos treina para isto? Perdas grandes e pequenas, às vezes, nos desestruturam, mas nos fortalecem também. Sempre poderemos sair engrandecidos de qualquer situação. Se não “passarmos de ano”, é possível que tenhamos novas oportunidades, mesmo que não as desejemos.
A felicidade, como algo mais duradouro, passa por alegrias e tristezas e, principalmente, pelas incertezas. Elas podem se transformar em ansiedade, em medo, revolta ou impaciência. Podem também nos ajudar a desenvolver a gratidão, a resiliência e o desapego. Sobre este último, é a parte mais difícil. Desapegar não é fácil, principalmente, das preocupações.
Recentemente uma amiga próxima transformou dias de aflição em dias de treinamento de desapego. Ela aguardava o resultado de uma biópsia. Não havia nada que ela pudesse fazer, a não ser aguardar com sentimento de confiança em Deus e no universo. Ela fez o que lhe cabia e chegou uma hora em que era preciso soltar, confiar. Ela treinou o desapego.
E você, como tem lidado com as incertezas, perdas e dificuldades? Elas têm servido para torná-lo uma pessoa ainda melhor?
Julio Sampaio (PCC, ICF)
Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria Empresarial