Blog

Compartilhe

Deixar a porta aberta

Autor: Julio Sampaio

Como advogada, Rachel estava sendo transferida do escritório onde trabalhava do Rio de Janeiro para São Paulo. Era uma espécie de promoção e apesar de não fazer parte de seus planos, ela desejava agarrar esta oportunidade. Era preciso, no entanto, que fosse de imediato. Não haveria tempo para muitas preparações. A escolha do novo apartamento precisaria acontecer em uma única ida a São Paulo. Apesar da verba recebida para custeio da mudança, se não agisse rápido, teria custos dobrados de moradia.

A tarefa não seria fácil, principalmente porque Rachel procurava algo difícil pelo valor que se propunha a pagar. No Rio, morava no Leblon em um bom flat, por um valor abaixo de mercado. Como manter este mesmo padrão em São Paulo? Dois dias e após dezenas de visitas a imóveis pré-selecionados foram suficientes para confirmar que seria difícil. Um único imóvel se aproximava do que parecia factível, mas era disputado por outros candidatos.

Uma conversa casual fez com que a corretora mencionasse o nome da proprietária, uma investidora também carioca. A coincidência era de que era o mesmo nome da proprietária de um imóvel que Rachel tinha sido já inquilina e com quem não tinha contato há anos. Coincidência ainda maior era que se tratava da mesma pessoa. Um rápido telefonema fez com que as condições fossem acertadas, dentro do que Rachel desejava, e com ocupação imediata, mesmo enquanto tratava-se da documentação do contrato. A proprietária ficara feliz em voltar a ter Rachel em um dos seus imóveis.

Charles tinha pouco menos de 50 anos. Era considerado um bom homem e um bom profissional. Passou por um final de casamento conturbado após 25 anos de união. As brigas chegaram à justiça. Charles teve uma parte de seus rendimentos mensais destinada à pensão da mulher e dos filhos, além da divisão de algum patrimônio, segundo ele, conquistado pelo seu esforço e não da mulher. Relatava cada etapa do processo aos colegas de trabalho, referindo-se à mulher com o adjetivo de “purgante”. Os próprios colegas testemunharam uma segunda situação de conflito com Charles. Desta vez, contra a empresa, um jornal em que Charles trabalhara por quase 20 anos. Numa discussão com seu chefe, quase chegou às vias de fato, sendo retirado a força até a saída. Sentindo-se injustiçado, Charles moveu um processo trabalhista contra o seu antigo patrão, o que o fez afastar-se do convívio de amigos e colegas de trabalho de tanto tempo e de perder as boas referências que poderia ter após anos de dedicação à empresa.

Estas duas histórias do cotidiano são mais freqüentes do que parecem. Têm em comum a tendência que algumas pessoas têm para deixar a porta aberta ao final de suas relações ou ao contrário, a de sair sempre batendo a porta. Estes últimos, sem perceber, vão repetindo a mesma história, ao final de um namoro, de um casamento ou após uma simples transação de compra ou venda. No mundo corporativo, vai-se construindo um ou outro tipo de reputação.

Relacionamentos pessoais e comerciais podem ter um ciclo de começo, meio e fim, como tudo. No entanto, uma regrinha simples faz toda a diferença na construção de nossa felicidade: deixar sempre a porta aberta. 

 

 

Julio Sampaio

Mento-Coach e Fundador do MCI - Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching

Autor do Livro: O Espírito do Dinheiro (Editora Ponto Vital), dentre outros.