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Cuidado com a mosca azul

Autor: Julio Sampaio

   Dentre as minhas diversas limitações pessoais está a minha desproporcional ojeriza a insetos, aproximando-se do que poderia ser considerado uma fobia. As baratas ocupam um lugar nobre nesta questão. Já passei por situações ridículas por causa de baratas voadoras, que fizeram interromper uma aula que dava, por exemplo. Ou de ocupar a posição do porteiro na portaria, enquanto ele subia para matar uma que invadira o meu apartamento, na época no 17º andar. Em hotéis, é sempre a minha primeira preocupação e já tive a experiência, no exterior, de precisar sair tarde da noite à procura de um novo, já que o que estava hospedado, sugeria estar “infestado” de baratas, já que eu vi uma delas passeando no saguão. Enfim, vou poupar o leitor de outras situações, que não engradecem ninguém, relativas à minha relação com as baratas.

   Ratos então nem se fala. Dá ojeriza só em pensar. Desde criança, no desenho animado de sucesso na época, torcia pelo Tom e não pelo malvado Jerry, o ratinho que para a maioria das crianças era simpático, esperto e frágil. Um verdadeiro demônio, na minha visão infantil.

   Tem também os mosquitos. Se existir algum em um ambiente amplo, com muitas pessoas, ele vai escolher a mim para morder e gerar rapidamente um processo alérgico, traduzido em uma grande vermelhidão no local da mordida. No caso dos mosquitos, enfrento e tento matá-los com as mãos, sendo, às vezes, bem-sucedido. De qualquer maneira, como sou uma pessoa de paz, evito situações de confronto, o que me faz evitar matas ou trilhas em que possa encontrá-los. Aliás, a vida no campo não me atrai por causa deles e de outros insetos, o que me leva a fugir de contatos tão diretos com a natureza, como em sítios ou em eco resorts. Amo a natureza, mas fujo de contatos físicos com ela. Frequento parques, mas sempre alerta e muitas vezes protegido com repelentes.

   Há, porém, um tipo de inseto ainda mais perigoso do que todos esses. Me refiro à mosca azul.  Ela é sorrateira, sedutora, diz o que queremos ouvir e injeta o seu veneno que, ao contrário do que é usual, é extremamente saboroso. Tão saboroso que, como uma droga pesada, nos faz viajar por um mundo irreal, nos viciando rapidamente, nos alienando e nos distanciando cada vez mais da realidade. O retorno é difícil e o choque com a realidade dolorosa. Momentos de consciência são alternados com crises de abstinência e alguns casos parecem ser irreversíveis, tamanha é a distância do mundo real.

   A mosca azul costuma atacar pessoas inteligentes, boas no que fazem e determinadas. Como uma traficante, ela oferece as primeiras doses do veneno, de maneira aparentemente despretensiosa, embaladas por pequenas conquistas e vitórias, reforçadas por aplausos e reconhecimento. Novas e maiores doses vão sendo oferecidas e as vítimas parecem cada vez maiores, infladas que são, por dentro e por fora. A partir de um certo ponto, o retorno indolor torna-se impossível, sendo necessária uma verdadeira implosão, como um estouro de uma bola de gás, destas que se mantêm no ar e sobem, sobem, até estourar.

   Talvez você, caro leitor, nunca tenha visto de perto uma mosca azul. Ela costuma ser imperceptível quando nos ataca, mas vemos o efeito quando morde pessoas que nos cercam. Nos outros, nos causa repulsa, mas estranhamente somos atraídos por ela. Todos podemos ser mordidos pela mosca azul, se nos deixarmos levar por ilusões. A mosca azul não traz felicidade para ninguém, nem para nós, nem para quem nos cerca.

   Baratas, ratos e mosquitos. De todos os insetos, o mais perigoso talvez seja mesmo a mosca azul. Para ser feliz e fazer outras pessoas felizes, é preciso ter cuidado com ela. Vale até fobia.

 

Julio Cesar Sampaio (PCC, ICF)

Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching