Blog

Compartilhe

Como se livrar das dívidas

Autor: Julio Sampaio

O filósofo Mokiti Okada dizia que ninguém ficará pobre se não tiver dívidas. Segundo ele, as dívidas devem ser evitadas e quem tiver dívidas precisa se livrar delas. Para alguns, isso pode parecer óbvio, pelo pensamento: “se pudesse, não teria dívidas, ora”. Mas será que não teria mesmo?

Há as dívidas geradas por um negócio mal sucedido ou dificuldades por doença, desemprego prolongado, ou por acontecimentos a que todos estamos sujeitos e que não estão sob o nosso controle. No entanto, há aquelas que foram criadas na nossa esfera de domínio.

A começar, muitos se endividam pelo desejo consumista, sem fazer um orçamento, e deixando para ver como fica depois. Outros, por não terem paciência ou autodisciplina, pensam que é mais fácil ter um carnê para pagar do que separar a mesma quantia para poupar e depois, algumas vezes, na metade do tempo, comprar à vista. Há os que, no encerramento de um destes carnês, pensam “opa, já posso substituir por outro”, emendando uma dívida na outra. Para estas pessoas, dever pode se tornar como uma espécie de vício.

A questão da dívida vai além do cálculo dos juros. Sua influência é grande no plano invisível. Emocionalmente, ela interfere na nossa tranquilidade, no sentimento de liberdade, na percepção de autonomia e, quando falhamos no pagamento, por qualquer razão, afeta um dos nossos maiores patrimônios: a confiança. Minha experiência, comigo mesmo, e com várias outras pessoas que acompanhei em trabalho voluntário de mentoria financeira, é que, numa situação de dívidas, ficamos como que em um rush de trânsito, anda aqui, para ali, e passa o tempo, quase não saímos do lugar. Ao superar as dívidas, por alguma razão imaterial (talvez pelo aspecto ordem que tratamos em outro artigo), é como se saíssemos deste trânsito e ganhássemos uma estrada livre. Tudo parece fluir, as oportunidades se abrem e experimentamos um grande progresso em pouco tempo. Assim, se livrar de dívidas e não entrar nelas é, sim, um fator de grande importância para quem quer fazer uso pleno de todo o seu potencial. Esta consciência, diria, é o primeiro passo.

Para quem já vive uma situação de dívidas, o segundo passo compreende relacionar todas as dívidas e classificá-las como, por exemplo: dívidas com sentimentos, ou seja, com pessoas físicas (vide artigo anterior), dívidas vencidas, dívidas negociáveis, dívidas mensais (não são o mesmo que despesas), dívidas de juros exorbitantes e dívidas futuras. Esta classificação é hipotética e vai variar de pessoa e situação. Ela servirá para o terceiro passo, que é priorizar e estabelecer uma estratégia, um plano de ação.

Márcia e João Carlos estavam com mensalidades atrasadas da escola das crianças e do condomínio. Depois de relutarem bastante, buscaram uma negociação e diluíram o valor nas parcelas seguintes. Com um banco, que eles deviam há anos, conseguiram uma redução na ordem de 80% do valor que estavam sendo cobrados, com todos os juros e encargos acrescidos. As duas situações fizeram com que eles saíssem do nível de inadimplentes. Com a vida organizada e com muita disciplina, entraram numa nova fase de vida. Logo outras situações inesperadas fizeram com que eles alcançassem um patamar ainda maior.

Não é fácil fazer esta virada. Exige maturidade, esforço e determinação. Isto só é possível quando é gerada uma forte consciência: a de que toda dívida precisa ser paga, que é fator crítico se livrar de todas elas e que é fundamental criar defesas para impedir a criação de novas dívidas. 

 

Mentor e Fundador do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria

Autor do Livro: O Espírito do Dinheiro (Editora Ponto Vital)