Cândida é, antes de tudo, uma excelente pessoa. Seus valores são elevados e quem convive com ela testemunha que é alguém que está sempre alerta, aproveitando as oportunidades de ser útil. É uma característica que chama atenção e que tem contribuído para que Cândida tenha uma carreira bem-sucedida como executiva de vendas.
Atualmente, Cândida trabalha em uma multinacional que participa do Sistema B, um movimento internacional em que empresas se comprometem e apresentam indicadores de impacto positivo na sociedade. Não apenas atendem às leis, mas vão além, assumindo uma causa responsável.
Perguntada como Cândida se sente trabalhando para esta empresa, ela responde que, quando pensa no quanto a companhia contribui para o benefício de milhares de famílias, percebe que o seu trabalho faz sentido e que ela contribui para algo do bem. Isto tem a ver com o seu propósito pessoal de fazer felizes as pessoas em seu entorno, com o uso de sua empatia e da facilidade de cultivar relacionamentos. Mas ainda assim, ela não se sente plena. É Cândida quem fala:
- Quando penso na missão e na causa da minha empresa, vejo que tem tudo a ver comigo, com o meu propósito, mas, para falar a verdade, não é assim que eu me sinto no dia a dia. Quando participo de reuniões de metas de vendas, quando faço os relatórios ou mesmo quando fecho um pedido, o que está ali são números, dinheiro, orçamentos que precisam ser atingidos. É algo mais frio, você entende? Não é como fazer o bem. Sim, eu sei que a empresa para existir, precisa vender, ter lucro, senão ela desaparece. Se isso acontecesse, pessoas como eu, ficariam sem emprego e os clientes sem os nossos produtos. O impacto positivo dela, a sua causa maior, deixaria de ser defendida. Todos perderiam. Racionalmente, eu sei de tudo isso, mas não consigo pensar assim no dia a dia de meu trabalho, o que me faz vibrar menos com o que eu faço. Seria mais feliz se conseguisse, mas vivo esta espécie de dilema.
Alguém pergunta a Cândida:
- Você quer dizer então que quando você racionaliza, consegue perceber um alinhamento entre o propósito da sua empresa, o seu propósito pessoal e o seu trabalho, mas que no dia a dia, você não se sente assim? O que falta?
- Não sei, talvez falte...não sei...falta conexão. Sim, é esta palavra! No meu dia a dia, falta conexão entre o propósito da empresa, o meu propósito e a missão do meu cargo, no caso, cuidar da minha carteira de clientes e atingir as metas de vendas.
- Cândida, a quem caberia fazer esta conexão e como poderia ser feito?
O dilema de Cândida não é incomum. Mesmo que estejamos trabalhando para uma boa empresa e por uma boa causa, como manter-nos conectados todo o tempo?
Existem situações em que não existe este alinhamento. Nestes casos, nós podemos nos sabotar inconscientemente. Alguém pacifista, por exemplo, não vai se sentir identificado em trabalhar para uma indústria armamentista, especialmente, se a sua missão for vender mais armas. O mesmo para um vegetariano trabalhando em um frigorífico.
Assim, faz sentido tais questionamentos. Para quem e para que causa estou trabalhando? Como a missão do meu cargo contribui para este propósito e como ambos se identificam com o meu próprio propósito?
Se não houver este alinhamento, como somos agentes de mudança podemos fazer pontes para outras alternativas de trabalho. Se tudo estiver alinhado, restará ainda o desafio de Cândida. Como fazer uma forte conexão e mantê-la viva, vibrante, em cada momento, em cada dia? Sabemos que este é o único caminho da excelência e de um nível maior de felicidade no trabalho.
Mas, repetindo a pergunta feita a Cândida: a quem caberia fazer esta conexão e como poderia ser feito? O que você responderia?
Julio Sampaio (PCC, ICF)
Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute
Diretor da Resultado Consultoria Empresarial