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Com tantas incertezas, desapegar não é fácil

Autor: Julio Sampaio

Mokiti Okada, filósofo oriental, afirma que o maior desafio do ser humano é desapegar. Ao lidar com a morte, o homem precisará desapegar-se. Ao lidar com a vida, porém, não será diferente. Todos nós temos um tipo de apego, a que somos mais vulneráveis. Uns são apegados ao dinheiro, outros ao poder, a outras pessoas, ao passado ou ao futuro. Muitos são apegados às preocupações. Substituem uma pelas outras e quando não encontram motivos, simplesmente as criam. Todos temos o que desenvolver neste terreno, se quisermos ser mais felizes. Isto porque o apego aprisiona e nos impede de vivenciar o nosso maior potencial.

Um dos tipos mais sutis de apego é o que temos com as nossas crenças. Fazemos de tudo para preservá-las e ajustar a realidade à nossa narrativa, mesmo que o mundo já não seja o mesmo. É como se fosse o corpo de uma criança que crescesse rapidamente e que insistíssemos em manter as mesmas roupas e sapatos, mesmo que os botões não fechassem, a calça não entrasse direito e os sapatos apertassem. Até que...lembra do personagem que virava Hulk?

É o que acontece, por exemplo, com as experiências profissionais que tivemos no passado e que nos trouxeram até aqui. Aprendemos como se faz, o que dá certo e o que não funciona. Elas se converteram em aprendizado, correto? Não mais. No passado, sim, em um aprendizado que seria útil por muito tempo, talvez por toda a vida. Hoje, este ganho pode ser muito diferente, relacionado talvez ao como tenhamos lidado com o novo, naquela determinada ocasião. Talvez não muito mais do que isso. O apego às crenças pode muito rapidamente transformar inovadores em retrógrados, que resistem ao novo. Isso sempre ocorreu, mas nunca nesta velocidade.

Há ainda outros tipos de apego muito presentes no mundo corporativo, como o apego ao poder, por exemplo. Todos teriam histórias para contar sobre isso. E o apego daqueles que, numa negociação, só conseguem ver os seus próprios interesses, sem dar a mínima para os do outro lado? E o apego à preocupação do atingimento das metas, que faz acordar no meio da madrugada e não dormir mais? Tem o apego ao controle do todo e de cada detalhe, que alguns gestores não conseguem se libertar. Enfim, temos vários tipos de apego no cardápio.

O que todos eles têm em comum é que o apego costuma trazer o efeito contrário. Aquilo que nos apegamos tende a fugir de nossas mãos, como a pessoa extremamente ciumenta (um tipo clássico de apego) que afasta o outro. O apego ao sucesso, ao reconhecimento e aos próprios ganhos geram o mesmo efeito.

Se é assim, como agir? Como treinar o desapego? Não existe uma fórmula, mas alguns caminhos. Faço um paralelo com o processo de respiração. Após a inspiração, precisamos expirar, soltar o ar naturalmente. Seria como fazer a nossa parte, no caso da busca de resultados, o máximo que estiver ao nosso alcance e depois... depois soltar, entregar ao universo, confiar no processo, permitir que as coisas fluam e que nos tragam as repostas. Após isso, nova inspiração e nova expiração, sem apego. Fácil na teoria, difícil na prática.

Em tempos de tantas mudanças e tantas incertezas, desapegar não é fácil.

 

Julio Sampaio de Andrade

Mentor e Fundador do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria

Autor do Livro: O Espírito do Dinheiro (Editora Ponto Vital), dentre outros

Texto publicado no Portal Amazônia