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As relações internas do ser vivo empresa 1

Autor: Julio Sampaio

Um dos componentes que caracterizam a personalidade de uma empresa é a maneira como ocorre a relação entre os seus donos, líderes e colaboradores. Ela definirá, em grande parte, se este ser será um organismo saudável ou doentio, independentemente do que disser o seu balanço do momento, pois, mais cedo ou mais tarde, este estado se refletirá nos resultados. É como uma pessoa que se entope de gordura a vida inteira, mas o seu checkup se apresenta saudável. Em algum momento, apontará o problema.

Há empresas em que os donos se comportam como uma verdadeira realeza ou como deuses no olimpo. O que falam é lei, não admitem ser contrariados e qualquer atitude de aproximação com um empregado deve ser vista como um ato de magnitude de sua parte. Não se importam de descumprir horários de reuniões, chegando atrasados, não prestando qualquer tipo de satisfação. Não demonstram nenhum respeito pela agenda de seus colaboradores, convocando-os a qualquer momento, ainda que para fazê-los esperar para serem atendidos. Sentem que estão pagando pelo seu tempo e, por isso, têm este direito. Quando este quadro ocorre em empresas pequenas, assemelha-se à relação entre o senhor da casa e seus serviçais. Todos conhecemos casos assim, que não dependem do porte da empresa, mas do tamanho da cabeça de seus proprietários.

Há outras empresas em que tal distorção ocorre no nível de suas lideranças. Neste caso, os donos são comedidos, mas delegam aos seus executivos um absoluto poder, o de ser o que são, e não o que deveriam ser. Estes executivos, sejam diretores, gerentes ou um encarregado de qualquer coisa, são pessoas da confiança dos donos, apresentam resultados e, em troca, recebem um crachá com poderes para se impor. Isto nunca é feito de forma explícita, mas através do “fechar os olhos” para o que acontece nos bastidores. Os supostos líderes contrariam o discurso, muitas vezes humanistas dos donos da empresa, mas estes preferem não ser incomodados com isto.

Quando a alta direção de uma empresa, especialmente os seus proprietários, não refletem e definem qual o tipo de liderança que desejam ter, na prática, estão delegando que qualquer um chegue com seu jeitão e implemente o queira.

Um de nossos clientes fez o dever de casa de definir o tipo de liderança que queria implantar na empresa. Os sócios estudaram as diversas linhas teóricas sobre liderança, optaram pela que mais se identificaram e compartilharam claramente com o seu corpo de líderes. Estudaram juntos e saíram todos alinhados. Algum tempo depois, surgiram sinais de que um de seus gerentes, para atingir as metas de vendas, adotava práticas desrespeitosas com a equipe. Ou seja, os discursos na parede continuavam lá, mas na prática, os fins justificavam os meios.

Era um de seus principais gerentes, a empresa devia boa parte de seu crescimento a ele e era alguém muito próximo. Talvez fosse melhor tratar o assunto com cautela, tendo uma simples conversa, solicitando que ele maneirasse no tratamento, mas sem deixar de trazer as vendas que a empresa precisava. Não foi o que fizeram. Chegaram a considerar a sua demissão, após uma conversa, deram-lhe uma nova chance, e o executivo teve a oportunidade de desculpar-se com os próprios colaboradores. Trata-se de uma pessoa de valor e um bom profissional que estaria desviado, talvez para sempre, não fosse a intervenção e a correção do rumo.

Aos proprietários desta empresa, o mérito de assumir a reponsabilidade que têm. A eles cabe definir que tipo de relações internas desejam ter e cuidar para que isto aconteça. Trata-se de uma parte importante da personalidade da empresa, não é mesmo? Dá trabalho e exige coragem. Mas e os colaboradores, qual a sua responsabilidade nisto, caro leitor? Seguimos na próxima semana.

Julio Sampaio (PCC, ICF)

Idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching

Autor do Livro: Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital), dentre outros

Texto publicado no Portal Amazônia