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Antepassados, Descendentes e Felicidade

Autor: Julio Sampaio

Caio acabou de chegar. Trouxe realização e felicidade para os pais, que o queriam muito. Alice é tão desejada, que uma equipe de médicos especialistas foi acionada para uma gravidez assistida. Quando chegar será a menina caçula de cinco primo-irmãos, todos homens. Sua vinda foi anunciada e comemorada em uma reunião online com vários amigos e familiares, torcedores do projeto. Levi é o primo mais novo de Alice e já conquistou seu espaço diante dos irmãos, cada um de personalidade bem distinta. Yoshi ainda não é o seu nome oficial, mas já foi motivo de festa no Japão, onde os pais estavam em viagem, quando descobriram que era uma menina. Para a mesma época, Olivia é esperada.

O que será de cada um? O que já é cada um? Não o que será no futuro, mas já quando chega? O que cada um traz?

Mokiti Okada e um de seus textos afirma: “...não somos seres surgidos do nada, sem relação com nada. Na verdade, representamos a síntese de centenas ou milhares de antepassados e existimos na extremidade desse elo. Somos, portanto, seres intermediários de uma sequência infinita, formando uma existência individualizada no tempo. Em sentido amplo, somos um elo da corrente que une os antepassados com as gerações futuras; em sentido restrito, somos uma peça como a cunha, destinada a firmar a ligação entre nossos pais e nossos filhos”.

Cada um de nós tem dois pais, quatro avós, oito bisavós, dezesseis trisavós. Só até aí, já somos descendentes de trinta e duas pessoas. Na décima geração, teremos quatro mil e noventa e quatro antepassados e isto talvez tenha ocorrido em menos de trezentos anos, se considerarmos que cada um teve filhos em média aos trinta anos ou menos.

Sim, não somos seres que vieram do nada. Estamos ligados aos nossos antepassados e aos nossos descendentes. De nossos pais e avós, não herdamos apenas a raça, a cor da pele, o formato do nariz, ou outras características físicas. Trazemos dentro de nós o que eles sentiram, pensaram, vivenciaram, e que deu origens a crenças, que estão lá em nosso inconsciente, às vezes de forma tão sútil, que as encaramos como verdades absolutas.

Também não deixaremos para os nossos filhos e netos, apenas bens materiais e traços genéticos visíveis. Há um tipo de herança invisível, mas nem por isso menos importante, que terá uma forte influência na sua felicidade. Há pessoas que reproduzem situações e comportamentos vividos por parentes com quem nem conviveram. Há fatos externos que se repetem de geração em geração, aparentemente sem qualquer conexão entre si.

Se pensarmos em nossas próprias vidas, descobriremos que muito do que usufruímos são heranças que recebemos e eu não estou me referindo apenas a questões materiais ou culturais. Há outras heranças invisíveis, como méritos, para destacar o positivo, mas também alguns tipos de dívidas.

Perceber isto me gera dois sentimentos. O primeiro deles é o desejo de honrar a história de meus pais e de meus antepassados. O segundo é a consciência de que deixarei uma herança às minha filhas, netos e descendentes que virão.

No dia 02 de novembro, comemoramos aqui no Brasil o Dia dos Finados, ou o Dia dos Mortos. Em algumas culturas, fala-se em Dia dos Antepassados, o que para mim faz mais sentido. Eles não estão mortos. No mínimo, estão vivos dentro de nós e dentro dos que estão chegando.



Julio Sampaio (PCC, ICF)  

Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute 

Diretor da Resultado Consultoria Empresarial