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Terceira esfera – O uso do dinheiro

Autor: Julio Sampaio

Nos artigos anteriores pudemos analisar duas esferas da engrenagem que influencia a ação do invisível sobre a entrada e saída do dinheiro: a maneira como o ganhamos (falamos sobre o mundo do trabalho) e a nossa relação com o dinheiro (crenças, pensamentos e sentimentos). Trataremos hoje da terceira esfera, o uso do dinheiro.

O economista espanhol Joan Melé, ex-diretor do Triodos Bank, em seu livro Dinheiro e Consciência, destaca que há três formas de usarmos o dinheiro. Podemos gastá-lo, investi-lo ou doá-lo. O que chama a atenção em Melé é que, sendo ele um banqueiro, alerta para o fato de que a maioria das pessoas não sabe o destino que os bancos dão ao dinheiro. Elas se preocupam apenas com os tradicionais fatores como rentabilidade, segurança ou liquidez, de acordo com o seu perfil e necessidades. Mas o que o seu dinheiro está alimentando? A que causas ele está servindo e fazendo crescer?

Será, por exemplo, que uma pessoa pacifista sabe que o banco está investindo o seu dinheiro em um fundo que inclui empresas armamentistas? Ou o próprio leitor, gostaria que o seu dinheiro fosse empregado em uma empresa que faz uso de trabalho escravo, que polui o meio ambiente, ou ainda que coloca em risco, com as suas atividades, a vida de milhares de pessoas? O que o seu dinheiro está alimentado?

Na Europa há um grupo de bancos que se posiciona fortemente como éticos e que privilegia isso, colocando outros fatores, como a rentabilidade, em segundo plano. Estes bancos têm como clientes pessoas conscientes de que devem ser responsáveis pelo direcionamento de seu dinheiro. No Brasil, neste momento, há algumas iniciativas de criação de redes ou de startups, visando este objetivo.

A consciência de que somos responsáveis pelo direcionamento de nosso dinheiro não se restringe ao que é investido. Aplica-se ao que é doado, por exemplo. Comentamos em outro artigo sobre a força que possui o ato da doação. Ela pode ser uma forma de gratidão em ação, a que não se limita aos sentimentos. Mas a doação é mais do que isso. É também um tipo de investimento. Que tipo de retorno objetivamos com o tempo ou o dinheiro que doamos?

O ato da esmola para mendigos na rua gera um tipo de retorno e é questionado por muitos. As doações feitas para as igrejas servem a causa daquela determinada religião, sendo que cada uma tem a sua causa. Há as que visam interesses mais amplos ou mais restritos, mais nobres ou menos nobres.

 O mesmo se aplica às causas voltadas para crianças em risco, idosos desamparados, doenças oncológicas, distúrbios psicológicos ou psiquiátricos, violência contra a mulher, recuperação de adolescentes, luta contra as drogas, preconceitos raciais, centros de pesquisa, incentivo às atividades artísticas, preservação do meio ambiente, defesa dos animais, combate à desigualdade social, luta contra a corrupção, defesa da Amazônia... O que mais? O que toca o seu coração? O que o faz se sentir mais humano e motivado a contribuir? Que causa o faria conscientemente doar seu tempo ou seu dinheiro? Não porque é obrigação (caso dos impostos), mas por consciência?

Na esfera do uso do dinheiro, o investimento consciente e a doação consciente, mesmo que não sejam feitos pensando no retorno (e principalmente quando não o são), representam importantes investimentos espirituais, capazes de favorecer a chamada sorte ou azar em relação ao dinheiro. Não é por acaso que grandes investidores são grandes doadores. Que o digam, Warren Buffet, Bill e Melinda Gates, talvez você mesmo, caro leitor, e milhões de anônimos no Brasil e no mundo. Fazer parte deste time não é uma questão de ter muito ou pouco, mas de decisão.

 

 

Mentor e Fundador do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria

Autor do Livro: O Espírito do Dinheiro (Editora Ponto Vital)

Artigo publicado no Portal Amazônia