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Ter ego e não ter ego

Autor: Julio Sampaio

Maurício foi contratado como analista de sistema sênior em uma empresa de mídia e via no cargo uma oportunidade de desenvolver a área de informática, tornando-se o primeiro gerente do futuro departamento de tecnologia. Isto não foi prometido, mas ele percebeu que, com os novos tempos, a tecnologia poderia estar mais integrada ao negócio, e ele sabia que poderia contribuir.

Logo de início, Maurício se integrou muito bem com a equipe, não apenas de seu departamento como também nos demais. Maurício dominava bem planilhas, gráficos, programas de apresentação e sabia tudo sobre as redes sociais. Ajudava os colegas a construir os seus indicadores de desempenho e todos estavam muito felizes com a sua ajuda. Maurício, mais do que ninguém, sentia que encontrara a empresa certa para trabalhar, que logo permitiria alçar novos voos.

O relacionamento com o chefe imediato era bom, embora Maurício achasse que ele se sentia um pouco enciumado quando ele atendia a algum outro diretor, priorizando-o aos trabalhos que estavam mais sob a sua responsabilidade. Numa ocasião, o chefe manifestou isso mais claramente, quando cobrou o prazo de um projeto que estava atrasado “há apenas alguns dias”.

Maurício seguiu em frente, porém um sentimento de querer fazer-se reconhecido começou a crescer dentro dele. Nem todos os colegas pareciam perceber que ele estava fazendo além, para ajudar. Alguns não sinalizavam sequer um agradecimento e quando tinham que exigir algo que cabia à área de sistemas, não faziam por menos. Aos poucos, Maurício foi deixando de atendê-los, restringindo-se àqueles que valorizavam e elogiavam publicamente o seu trabalho, fazendo-o sentir-se muito bem.

No entanto, isto também começou a ser insuficiente. Maurício agora tinha um histórico de feitos na empresa e, mais do que ansiava, parecia exigir algum tipo de reconhecimento. Já fizera jus a uma nova posição e a empresa parecia agora um terreno árido, que não adiantava plantar. Maurício foi se isolando e sendo isolado pelos demais e não se cogitava que ele pudesse ser o futuro gerente da área que, como Maurício previra, passaria a se denominar Tecnologia, com novas atribuições no negócio.

O que aconteceu com o Maurício não foi algo incomum. Precisamos ter ego e sem eles, não teríamos individualidade. É o ego que nos faz sentir como uma gota e ao mesmo tempo parte do oceano. Mas o ego pode ser perigoso. Ele cresce e quando assume o domínio completo, esquece a gratidão e a humildade e é capaz até de passar por cima de valores e de pessoas. Podemos fazer coisas que, conscientemente, não seríamos capazes. No dia a dia, podemos nos tornar outras pessoas. Nestas circunstâncias, o sucesso pessoal e profissional autêntico ficará distante.

Vivemos um momento em que, na sociedade, nas redes sociais e no mundo corporativo, se enaltece demais os egos. Todos têm que ser estrelas, celebridades e contar com inúmeros seguidores. O ego agradece.

Mokiti Okada, em um de seus escritos, cita: “Encontrei, no livro sagrado “Ofudessaki”, as seguintes frases: “Não há coisa mais temível do que o ego; até divindades cometeram erros por causa dele”. E também: “Devem ter ego e não devem ter ego”; “é bom que o tenham, mas não o manifestem”.

Ter e não manifestar o ego. Como seria isso, caro leitor, na sua realidade?

 

 

Julio Sampaio de Andrade

Mentor e Fundador do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria

Autor do Livro: O Espírito do Dinheiro (Editora Ponto Vital), dentre outros

Texto publicado no Portal Amazônia