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Que reputação você defende sobre si mesmo?

Autor: Julio Sampaio

          Ouvi a frase de um cliente, Jeferson, em um processo de mentoria. Ele construía um plano, visando desenvolver um colaborador de sua equipe. Em determinado momento, exclamou: “é isso mesmo, vai dar certo...dê a alguém uma reputação e esta pessoa fará tudo para cuidar dela”. Se referia a reforçar alguns pontos fortes de seu assistente, que iriam servir de alavanca para o seu crescimento. Ele tinha razão, defendemos as nossas reputações. No entanto, nem sempre sobre os nossos pontos fortes.

          Perguntei a uma mulher: “Maria Cláudia, que reputação você defende sobre si mesma?”. Bem, disse ela, pensando: como muito doce...tenho humor instável, que mais?...Ah, não cozinho bem e sou ruim em matemática. Desde criança sou assim, por isso, estudei letras e jornalismo, brincou. Mas isso não vale, disse eu. Você falou coisas que não são positivas. Me fala de reputações boas, que você defende. Desta vez, demorou um pouco mais. Por fim, concluiu: sou comunicativa, escrevo bem e sou responsável, levo qualquer tarefa até o fim. Posso até discordar, mas se assumir, vou entregar. Quando era pequena detestava tomar conta de meu irmão, mas fazia direito e minha mãe reconhecia isto. No trabalho também era a mesma coisa, o que me ajudou muito na produção de jornalismo. Meus chefes sabiam que para mim era “missão dada, missão cumprida”

          Se aproxima da conversa, seu filho, Lugo, de 21 anos. Aproveito o tema e faço a mesma pergunta: “que reputação você defende sobre si mesmo?”. Ele, que trabalha com arte, responde rapidamente: “tenho fama de ser alguém que se destaca, que é diferente da maior parte das pessoas. Também de ser criativo e de ser uma boa companhia para os meus amigos. Creio que esta é a minha reputação. Gosto dela”.

          Pelos comentários entusiasmados da mãe que se seguiram, percebi o quanto ela havia contribuído para este tipo de reputação do filho. Ela acreditou nisso desde cedo e, a partir daí, ele também. Nossos pais fazem sempre o que podem de melhor para nós, mas sem perceber, ajudam a criar crenças que nem sempre nos fortalecem. Crescemos assumindo estes papéis e defendemos esta reputação, seja ela boa ou ruim.

          Fulano de tal não tem jeito mesmo, é desorganizado. Outro é malvado, diferente do irmão que chega a ser bobo de tão bonzinho. Tem o preguiçoso, a garota que só pensa em namorar ou o garoto folgado, que não faz nada por ninguém. Mas tem ainda o que tira a nota mais alta da turma e que vai passar a vida tendo que ser o primeiro, em qualquer situação. Alguém fala sempre a verdade e pode-se confiar no que diz. Outro, o que fala não se escreve. Alguém chega antes da hora e outro sempre atrasado. Cada um cumpre o seu papel. Buscamos corresponder às expectativas.

          Reflito sobre mim mesmo e percebo que, depois de tanto tempo, continuo a viver alguns papéis que foram plantados desde criança. Eles me trouxeram até aqui. Alguns me ajudaram, outros me dificultaram a jornada. Crenças sobre mim mesmo moldaram meu comportamento, se transformaram em hábitos e criaram a minha personalidade. As pessoas que convivem comigo sabem o que esperar de mim. Eu não quero decepcioná-las, mesmo nos defeitos e, por isso, tento ser coerente.

          Mudar não é fácil e a neurociência nos mostra isso. Fluxos neurais utilizados frequentemente se tornam fortes, criam hábitos, e não são extintos, mesmo que desejemos isto. Podemos criar um novo fluxo neural, um novo hábito, mas os antigos estarão lá, na espreita, prontos para serem reativados, a um menor descuido. É o que ocorre quando queremos adotar novos hábitos na alimentação, de incorporar exercícios na rotina diária ou na luta contra vícios. Neurologicamente, é o mesmo mecanismo que nos faz ser de um jeito ou de outro. Especialmente, se não temos consciência disso.

          Caro leitor, que reputação você defende sobre si próprio? O que esta reputação ajuda a ser o que você quer ser? A realizar os seus projetos? A conquistar os seus sonhos? O que é escolha consciente, o que você simplesmente aceitou, ainda que não o ajude, e a defende como se fosse sua?

 

Julio Sampaio (PCC, ICF)

Idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching

Autor do Livro: Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital), dentre outros