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Qual é mesmo o trabalho de quem procura trabalho?

Autor: Julio Sampaio

Não sei o que há de errado com o meu currículo. Tenho enviado para várias vagas. Já foram mais de 40 empresas e nem sequer estou sendo chamado para as entrevistas. É difícil não desanimar.

RC, o que mais você tem feito para se recolocar no mercado?

Basicamente é isso que tenho feito. Há algumas semanas, tentei me conectar com pessoas conhecidas e com outras com quem estive mais próximo no passado, falei do meu momento e pedi que me avisassem se soubessem de alguma oportunidade. Não tive qualquer retorno e não me senti bem fazendo isso. Acho que fiquei um pouco envergonhado.

Percebo que você está com a barba por fazer e parecendo um pouco cansado. 

Estou um pouco cansado, sim. Apesar de estar desempregado, tenho feito muita coisa. Já cedo levo minha filha na escola. A minha mulher anda muito atarefada no trabalho, por isso, eu mesmo tenho levado a filha menor para a creche. De manhã e de noite, saio com o cachorro para passear. Durante o dia, tenho arrumado a casa e faço a comida também. Sem falar nas consultas médicas, que tenho aproveitado para fazer. Os dias têm andado curtos.

Quando você tem se dedicado para procurar trabalho, RC?

Sempre. Pelo menos durante uma hora de manhã e uma, de tarde, sento-me no computador, busco nos sites as vagas oferecidas e envio currículos.

Que importância tem para você, RC, conseguir um novo trabalho hoje?

Arranjar um emprego hoje é a minha maior prioridade, a coisa mais importante.

Você tem dedicado tempo correspondente a esta prioridade?

RC declara que arranjar trabalho é a sua prioridade, mas está preso na armadilha das atividades, que o mantém ocupado naquilo que não é o importante. Ele tem um trabalho: procurar trabalho. Que tempo ele dedicava ao seu trabalho anterior? Que tempo ele dedicará ao seu futuro trabalho? Se são 6, 8 ou mais horas por dia, por que não se dedicar o equivalente ao seu atual trabalho? O que ele pode fazer além de sentar-se diante do computador e enviar currículos?

Ele pode fazer o que Steven Pressfield sugere no seu livro “Limites Internos”: enfrentar diariamente a resistência, uma força tóxica que nos limita a invocar o nosso genius interior, a força que nos impulsiona para a nossa vocação. Só vencemos a resistência e invocamos o genius se utilizarmos toda a nossa energia no tempo necessário para isso. 

Pergunto a RC: em que empresa você gostaria de trabalhar? A partir de sua resposta, há uma sequência de novas perguntas que podem ser feitas. O que faz esta empresa ser desejada? O que você sabe desta empresa? Qual a sua estratégia? O que você teria a oferecer que somaria a esta estratégia? Em que isto se conecta ao seu próprio propósito? Por que esta empresa deveria contratar você? O que você escreveria para ela especificamente, complementando as informações do seu currículo? Como você poderia fazer chegar esta informação a ela? Para que pessoa desta empresa? Você conhece alguém que tenha acesso a ela? Que outros caminhos você teria para fazer isto? 

Tudo isto para uma única empresa. Mas, que outras empresas você também gostaria de trabalhar? Que outras 10, 20 ou 50 empresas? Em que ordem de prioridade? O que você, RC, teria como mensagem específica para cada uma delas?

Tudo dá muito trabalho, consome tempo e demanda energia. Exige dedicação. Dá muito trabalho procurar um trabalho, especialmente, se for algo que nos conecte ao nosso propósito.

Não, o currículo de RC não tem nenhum problema. Ele é feito da mesma forma que outros milhares de currículos estão sendo feitos, de acordo com as atuais regras. O que ocorre é que ele é insuficiente. Sem o investimento de energia e de tempo, ele vira apenas um panfleto sem vida. Buscar trabalho dá trabalho, mas qual é mesmo o trabalho atual de RC?

 

Julio Sampaio (PCC, ICF) 

Mentor do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria Empresarial