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Empresa Ser Vivo – Dá para ser feliz? 1

Autor: Julio Sampaio

Caro leitor, para concluir esta série sobre a empresa ser vivo, faltou conversarmos sobre uma coisa muito importante, talvez a mais importante: é possível ser feliz no trabalho? Aristóteles reconhecia que tudo que fazemos tem por finalidade a felicidade. Saúde, dinheiro, poder, beleza, prestígio e até mesmo a pessoa amada ao nosso lado, tudo isso tem valor porque esperamos que nos fará felizes. Às vezes, nos enganamos. Estabelecemos metas, nos esforçamos, abrimos mão de várias coisas e ao chegarmos lá, podemos descobrir, por exemplo, que o prazer em dirigir aquele carro novo não é muito diferente do que dirigir o antigo. Ou que, passado algum tempo, nos acostumamos com qualquer outra conquista, retornando ao nível anterior de felicidade. É o que a psicologia chama de esteira hedônica, pois sempre voltamos para o mesmo lugar.

Segundo os mesmos estudos que apontaram este efeito, muito mais importantes do que fatores externos, são as nossas atitudes conscientes na direção da felicidade. O tema vai mais longe e tive oportunidade de abordá-lo no livro Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital). Aqui, interessa destacar que a felicidade pode e deve ser construída, o que contraria o senso comum, a ideia de sorte ou azar ou a dependência de fatores que não estão sob o nosso controle.

Construir a felicidade deveria ser assim a nossa grande meta, já que é o que mais desejamos. Vale para “pessoas seres humanos” e vale para “pessoas empresas”. Infelizmente, boa parte destes dois tipos de pessoas não é feliz e não faltariam razões para isto.

Não seria exagero dizer que seres humanos adultos, em sua maioria, passam a maior parte de sua vida trabalhando, ou em atividades voltadas para o trabalho, como estudando, se deslocando e outras pequenas tarefas que, somadas, consomem uma boa parcela do tempo que recebemos sob a forma de vida. Ainda assim, criamos uma cultura em que predomina a crença de que o trabalho é algo ruim que, se pudéssemos, faríamos outra coisa. A segunda-feira é classicamente um dia pesado, enquanto que “sextar” é algo maravilhoso, pois se aproxima o final de semana. Mas não o domingo, pois a música do Fantástico nos lembra que a segunda está chegando. As férias são sonhadas, projetadas e aguardadas com toda a ânsia. Acreditamos que nas férias, sim, teremos prazer. Somente nas férias seremos
plenamente felizes.

Tal crença, tão enraizada, é desmentida pelos fatos, conforme pesquisas sobre a felicidade demonstram. Isto é observado não quando perguntam o quanto estamos felizes, enquanto trabalhamos ou usufruíamos das férias. Quando somos questionados, pousamos para a fotografia e reproduzimos as nossas expectativas (a metáfora é utilizada por Mihaly Csikszentmihalyi no seu livro Flow - A Psisologia do Alto Desempenho e Felicidade). Quando se registra, no entanto, o nível de bem-estar ao longo de um tempo, cruzando-se com as atividades realizadas nestes períodos, os resultados mostram-se diferentes.

Contrariando as expectativas, para muitas pessoas, o volume de momentos de prazer, de desfrute (ou de fruição, flow) e de sentido de propósito, três tipos de emoções que chamamos de felicidade, é vivido, não nos momentos de lazer, mas nos dias de trabalho.

Não é o que diz o senso comum e o que somos levados a acreditar. Talvez por razões históricas, associamos trabalho com obrigações, sacrifícios e insatisfações. É uma crença que nos limita e que vai contra ao que realmente queremos. Há muito o que mudar no mundo das empresas, mas há uma transformação que precisamos fazer antes disso, dentro de nós. Precisamos assumir que é nossa a responsabilidade de construir a nossa felicidade e que isto inclui ser feliz no trabalho. Caro leitor, volto ao assunto na semana que vem.

Julio Sampaio (PCC, ICF)

Idealizador do MCI – Mentoring Coaching Institute

Diretor da Resultado Consultoria, Mentoring e Coaching

Autor do Livro: Felicidade, Pessoas e Empresas (Editora Ponto Vital), dentre outros

Texto publicado no Portal Amazônia