Talvez você não esteja nos seus melhores dias. Quem sabe não dormiu o suficiente. Ou talvez seja uma questão de fase. As coisas têm andado mais difíceis. Os projetos não caminharam como você esperava. Ou ainda, pode ser algo relacionado à saúde, que precisa ser mais bem cuidada. Talvez você precise de mais tempo para você mesmo, divertir-se mais ou intensificar práticas espirituais que tragam satisfação interior. Pode ser que você esteja lidando como novos desafios, iniciando uma atividade que você considera monótona ou desagradável. Não importa. Que tal começar esta atividade, ou o mês, a semana, o dia, a próxima hora, o trabalho, ou qualquer coisa com espírito de alegria?

Há um antigo provérbio oriental, enfatizado por Mokiti Okada em seu trabalho, que diz: “Alegrem-se que virão coisas alegres”. É o que os estudos de Havard comprovaram: a felicidade vem antes do sucesso e não o contrário. No livro “O Jeito Harvard de ser Feliz”, Shawn Achor aprofunda o assunto apresentando diversos estudos que atestam tal afirmativa. Felicidade é algo mais amplo que alegria, mas podemos observar em nós mesmos como a alegria funciona, sendo ela em si, uma das dimensões da felicidade.

Alegria não significa ser engraçado ou extrovertido, que são coisas diferentes. A alegria não precisa estar acompanhada de euforia, que é uma questão de intensidade, um tipo de pico elevado que costuma preceder picos baixos, uma vez que não é sustentável.

Alegria tem a ver com uma frequência positiva. Ela invoca presença, engajamento, gratidão, reconhecimento, boas expectativas, esperança, leveza. Alguns destes elementos podem estar presentes, outros não. Podem estar misturados ou separados. Nem sempre são identificáveis, se não prestarmos atenção. O certo é que a alegria é gostosa e é tão agradável que chega a ser, indevidamente, confundida com a felicidade, maior aspiração do ser humano.

A alegria, quando consciente, é ainda melhor do que quando é gerada por bebidas, drogas ou por qualquer estimulante externo. Angela, antes de partir, estava consciente de que lhe restavam poucos dias. Seus olhos transmitiam uma alegria serena, própria da consciência do que vivera e do que estava deixando como legado. Mimi, aos 94 anos, transborda alegria, contaminando qualquer ambiente em que esteja presente. Nela há uma alegria lúcida e envolvente, muito longe da euforia. Meus netos, Levi e Alice, nos seus primeiros anos de vida, possuem um tipo de alegria espontânea, alimentada por permanentes aprendizados e descobertas. Em todos nós pode haver a alegria do dia a dia, seja a de um domingo de sol ou de um dia de trabalho.

A vida não nos traz apenas alegria, o que a torna ainda mais valiosa. Também temos o que aprender com a tristeza, com a frustração e com a perda, por exemplo. Elas virão, mesmo que não a desejemos. Não precisamos cultivá-las. Ao contrário, é a alegria, que poderá ser incentivada, mesmo nas circunstâncias, em que não surgiria naturalmente. Práticas como o altruísmo, a gratidão e o desfrute do belo alimentam a alegria e nos aproximam da felicidade.

A alegria nos ajuda a ser mais inteligentes e o humor é um dos tipos mais sofisticados de inteligência. Jô Soares e Chico Anísio são exemplos de QI´s elevadíssimos que encontraram na alegria, não apenas o seu ganha-pão, mas uma forma elevada de manifestação artística. Mesmo os anônimos contadores de piadas espalham alegria ao mesmo tempo em que fazem amigos por onde passam. Eles são como os pássaros que despertam a antiga questão: “cantam por que são felizes ou são felizes por que cantam?”   

Ainda mais simples e anônimo é o cotidiano e o trabalho do dia a dia feito com espírito de alegria. Ele favorece o engajamento, a criatividade, a qualidade e a inovação em uma atmosfera em que outros possam atuar nesta frequência. “Tudo que merece ser feito merece ser bem-feito”, ouvi muitas vezes de meu pai. Com espírito de alegria, tudo fica mais fácil e agradável. 

Fica para todos nós o convite: vamos começar o mês, a semana, o dia, o trabalho, ou qualquer atividade com alegria? Mais uma vez, lembrando o antigo e sábio provérbio: “alegrem-se que virão coisas alegres”.