Uma pesquisa científica realizada recentemente com jovens da geração Y perguntou quais eram os seus objetivos mais importantes na vida. Oitenta por cento responderam que era ganhar dinheiro. Desse grupo, metade mencionou que um segundo objetivo era ficar famoso. Quem cita os dados é Robert Waldinger, em sua palestra no TED Talks. Ele é o quarto diretor do estudo mais longo já realizado sobre felicidade e desenvolvimento humano.
Realizado pela Universidade de Harvard, o estudo perdura por 75 anos e teve como propósito acompanhar 724 jovens de diferentes classes sociais, todos, à época, com 18 ou 20 anos. No momento, 60 destes homens, agora na faixa dos 90 e poucos anos, ainda vivem e, em determinado momento, suas esposas também se incorporaram ao estudo. Foram acompanhados a cada um ou dois anos, com entrevistas, questionários, vídeos e diferentes registros sobre cada fase da vida.
A maior parte teve momentos em que a resposta não foi diferente da geração Y. Dinheiro, fama e trabalho eram as prioridades. Lá pelos 50 anos, porém, já se percebia uma mudança nos valores, assim como apareciam sinais entre os que viveriam mais e que seriam mais felizes numa idade mais avançada, especialmente depois dos 80 anos. A conclusão para os pesquisadores é incontestável: vivem mais aqueles que nutrem relacionamentos próximos saudáveis. São os que sabem hoje que podem contar com a família, com amigos ou com o companheiro, mesmo que com pequenos conflitos aqui e ali.
Waldinger afirma convicto: bons relacionamentos nos mantêm mais felizes e saudáveis. Mesmo em momentos de dor, o humor é diferente das pessoas que estão sós. O cérebro se renova nos que se sentem amparados e se deteriora mais rápido para os que sentem solidão. Boas conexões sociais nos mantêm vivos. A solidão mata.
Não é à toa que relações saudáveis constituem uma das dimensões da felicidade, como demonstram os estudos de Martin Seligman, um dos pais da psicologia positiva. Elas são tão importantes quanto os momentos de prazer ou um propósito na vida, dentre outras dimensões da felicidade.
Constato isto de perto, com o casal Moreira e Lourdinha. Eles se tornaram meus sogros quando eu tinha mais de 50 anos, o que, para mim, era uma novidade. Quando me casei pela primeira vez, minha esposa já não tinha pais. Em compensação, eu me tornei sogro cedo, sendo pai de duas filhas. Acostumei-me ao papel. Viúvo, fui apresentado aos pais de quem viria a ser a minha segunda esposa, ou seja, meus sogros. Situação estranha para mim. Lembro que a primeira coisa que disse para eles foi que iria fazer a filha deles feliz. É o que todo pai quer que o genro faça, mesmo que ninguém possa garantir isto. Mas eu pensava com a cabeça de sogro.
Moramos hoje na mesma cidade e já posso desfrutar melhor deste papel e principalmente da companhia deles, um exemplo vivo do que os estudos de Harvard demoraram 75 anos até aqui para comprovar.
Ambos estão na faixa dos oitenta anos. Ela está aposentada há algum tempo, ao contrário dele que parou de trabalhar há apenas quatro ou cinco anos. Para quem trabalhou a vida inteira, desde cedo, poderia ser difícil se adaptar a uma rotina sem os compromissos, as diversões e, mesmo as ilusões, que o trabalho nos propicia, nos mantendo ocupados a maior parte do tempo.
Não foi o que aconteceu. Eles criaram um novo propósito, que é cuidar um do outro. Minha esposa se dedica a eles na maior do tempo, com espírito de amor e gratidão. Os outros dois irmãos estão sempre presentes, se deslocando de onde estiverem, sejam em datas festivas (que para eles são muitas), seja ao menor sinal de que eles necessitam de algo. Estão sempre recebendo em casa, netos, sobrinhos, irmãos e amigos de longa data. Fazem viagens em grupo e estão sempre buscando novos locais para conhecerem, seja o novo restaurante do bairro ou um lugar distante.
Dependendo do estágio de vida que estamos, pode fazer sentido ter como objetivo principal ganhar dinheiro, ser famoso ou ter sucesso profissional, mas é bom ter a visão do que realmente nos fará felizes, mais à frente na jornada. É o que dizem os estudos. É o que nos comprova a vida.
Penso que vale a reflexão: Como andam os nossos relacionamentos próximos?
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